Inventário PCI

Contrabando após a Guerra Civil de Espanha

Relato sobre como era feito o contrabando pelo rio Minho, no final da Guerra Civil de Espanha.

História oral (memórias do contrabando durante a Guerra Civil espanhola)

Transcrição

- "Eu sou do tempo do fim da Guerra Civil de Espanha. E depois, claro, sou daquela parte em que Espanha ficou a precisar de tudo: pão, cigarros, leite, azeite, tudo. Então ia daqui para lá."

- "Fazia-se muito contrabando."

- "Ia clandestino. Os guardas diziam que não podia, não queriam que fosse. Principalmente os cigarros, chegava-se ali à borda do rio. Da parte de Espanha estavam lá três ou quatro ou cinco rapazes, era só: «Português! Trazes algo?». E era só a gente acenar-lhe e eram logo três ou quatro a nadar para ver qual é que chegava primeiro. Por causa que eles depois tinham que fazer o negócio deles: eles compravam-nos o tabaco.

O tabaco naquela altura era o Português Suave, o (…), Três Vintes, eram as marcas que eu me lembro mais daquela altura. E a gente levava já em paquetes maiores, levava paquetes de 10 maços ou assim. Nós também tínhamos medo de andar com muito, por causa da Guarda Fiscal.

Nós tivemos aí um guarda que era o “Girafa”, que ele ia para cima dos olmos. O milho era alto, a gente ia pelo meio dos milhos para ao pé do rio. Ele então punha-se em cima dum olmo. Um olmo é..."

- "Uma árvore que há lá ao pé do rio."

- "Não sei se olmo é nome próprio. Penso que há olmo também."

- "Há olmo e há choupo, que é um bocado diferente."

- "Exatamente, é parente! Esse então punha-se [em cima do olmo] para mirar em cima [do milho]. Era fodido, aquele “Girafa” era fodido. Era um tipo alto, também. Então eu sou desse tempo.

Depois, tu ainda chegaste a andar no café também não?  Mas depois isto continuou anos, a gente a acarretar para Espanha pelo café. O café, pelo menos, toneladas e toneladas, por toda a raia. E depois foi também muito material de cobre, fio de cobre, que era mau de levar a puta da aliança. A gente punha assim atravessado, metia-se aqui [espetava-se no lombo]."

- "De noite metia um pé num buraco, caía. E depois eram pesos… Por causa de ganhar uns 20 mil reis. Fazia-se uma festa com 20 mil reis, comprava-se umas botas de borracha."

- "Depois, quando o Franco entrou e começou a entrar, foi quando começou a proibir: nada de fora. Fabricava-se em Espanha. Foi quando começaram a montar indústrias deles. A Espanha foi nessa altura. Mas nós andámos anos. Sulfato, até sulfato se levava para lá no tempo das vinhas. Sabão ainda era antes, que as mulheres é que levavam. Ovos, farinha. Porque eles naquele tempo da Guerra Civil deixaram de produzir nada, [ficaram] dependentes de tudo. Eu sou desse tempo.

E depois sou da guerra, também, de 39 a 45. Já não me lembro bem a hora de ler revistas do Hitler naqueles carros descapotáveis: «Eu é que sou o maior!», com a mão assim no ar. Quem mas arranjava era o pai do Zé Lourenço, o Zé Baristo, que eu não sei se essas revistas andavam aí, se eram um bocado clandestinas, mas ele tinha. Parece que era uma por mês. Então deixava-me sempre ler."

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Alfredo Rodrigues, Manuel Esteves, Xavier Rodrigues

Contexto de produção

Contexto territorial

Verdoejo
Verdoejo
Valença
Viana do castelo

Contexto temporal

2022

Património associado

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão
Idioma

Equipa

Transcrição
Laura del Rio, Paulo Correia
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Filomena Sousa, José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL