Inventário PCI
Reza para curar as frieiras e cuidados a ter para não ficar com cabras nas pernas.
Ensalmo para curar as frieiras; Expressões linguísticas locais
Transcrição
- "Sabalhão é as frieiras. A frieira, aqui, é sabalhão. Ninguém dizia frieiras, todo o mundo diz sabalhão. Então havia um ritual qualquer, uma reza que se fazia, que era: havia que se ir a um campo, como este aqui, como este nosso, que não tivesse divisão. Tinha uma pedra no fundo e uma no cimo. Era o marco, chamavam-lhe os marcos, que era o que dividia os campos. Então havia que ir a esse marco e esfregava-se o pé. O que tinha o sabalhão esfregava-se ali e diziam:
Marco, marcão
Tira-me este sabalhão
Que eu durante um ano
Não passo aqui não.
Pela graça de Deus e da Virgem Maria
Um Pai Nosso e um Avé Maria.
Isso o rezar, havia que rezar sempre, que era para as coisas correrem bem."
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- "E as moças antigamente não se podiam pôr ao lume, muito chegadas ao lume, se não vinham-lhe cabras nas pernas. Chamavam-se cabras. «Olha-me aquela, é uma cabrosa»."
- "Mas não tinha nada a ver com as cabras."
- "Não, não. Era, por exemplo, antigamente as moças tinham de ser branquinhas, quanto mais branquinhas [melhor]. Elas mesmo andavam a seixar o milho com camisolas de manga comprida, chapéus e tudo. A mulher tinha que ser branquinha. Então se fosse para o lume ficava-lhe aqui [na perna] um bocadinho vermelho. Então dizia-se: «Sai daí que ficas [com cabras]»"
- "Mas era no lume, mas no lume na lareira."
- "Não vás para aí que te enches de cabras.». Até havia uma moça em Quarta que lhe chamavam a Cabrosa, porque ela não se importava, ela ia para o lume."
- "Eram as manchas?"
- "Eram as manchas do calor."
- "E chamavam-lhe as cabras nas pernas."