Inventário PCI
Manuel Carvalhal (Poeta Silvais), poesia tradicional em décima.
Registo no âmbito do curso "Registo de Património cultural imaterial" com a participação dos formandos. Turma de 15 e 16 de abril 2024, Évora.
Evento promovido pela Câmara Municipal de Évora.
Transcrição
Poeta Silvais - Alentejo terra mãe
Gosto de escrever e de repente vem a qualquer coisa, que me aconteça à frente ou veja. E fica cá. E depois tento desenvolver. Não sou poeta, de escrever aquela poesia lírica nem de… pôr o pessoal a rir e nem a coisa. Eu gosto de escrever seriamente e às verdades e à cultura do povo. Tem outras que escrevi aqui quando fiz esse encontro ali no Monte Alentejano, que o Tio Crespo me ajudou também muito. Fiz ali representação de 42 concelhos do Alentejo Alto e Baixo e Litoral. E no mesmo dia fiz duas décimas e decorei-as. Foi umas à cidade e foi estas ao Alentejo, que era a Fundação Alentejo Terra Mãe. E então é:
Alentejo Terra Mãe
do que dá a natureza.
O teu povo ainda tem
na cultura uma riqueza.
Desde muito pequenino
que eu conheço a minha terra.
E sei bem o que ela encerra
pelas vias do destino.
Fiz no campo meu ensino.
Lidei com pastores e cães
do forno comia os pães
que a minha mãe lá cozia
de trigo que produzias
Alentejo Terra Mãe.
Estás ficando abandonado.
Nosso povo tem pobreza,
mas podes ter a certeza
que és por mim, sempre estimado.
Se fores bem administrado,
tu és uma fortaleza
e a economia portuguesa,
tira de ti dividendos
já não ficas só vivendo
do que dá a natureza.
Á charneca embravecida
ainda volta nos chacais,
mas na volta os trigais
na planície ressequida
cada vez há menos vida
por ninguém te querer o bem.
Há abandono e desdém
na vasta campina ardente
mas o calor eternamente
o teu povo ainda tem.
Procuro em ti viver
com o melhor do sentimento,
sem saber se no momento
consigo me reviver.
Nos momentos de lazer
vou passear e com tristeza,
vejo os campos sem beleza
que tinham antigamente.
Mas tens valor evidente,
na cultura, uma riqueza.