Inventário PCI

Não canto mais o fado

Poetas Populares de Grândola - Vídeo Poesia Popular.

“Não canto mais o fado”- Poema sobre o desgosto de não mais poder cantar o fado

Paulatino Augusto; Ano de nascimento: 1929; Concelho de Grândola.

Registo 2007.

Décimas.

Quadra (mote) seguida de uma glosa em 4 décimas (em redondilha maior).

Classificação: Proposta por Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Julho de 2007.

Transcrição

Não canto mais o fado

 

«Já na’(1) sou nada na vida.

E tudo ao pé me desapareceu.

Eu já não me posso cantar o fado.

O fado(2) pra(3) mim morreu.

 

Já tenho a vida findada.

Sei que me levam qualquer dia

pra debaixo da terra fria

prá(4) minha eterna morada.

Não tenho ideia pra nada.

A ideia ‘tá(5) perdida.

Está findada a minha lida

como findou a Severa(6).

Mas à vista de quem eu era

já na’ sou nada na vida.

 

Foi-se embora a novidão(7).

Ouvir de pouco a pouco,

eu vou estar cego e louco

e com penas no coração.

Eu sou o que resta de paixão.

E quem lhe diz isto tudo sou eu.

Pereci daquele que faleceu.

Serás tu e toda a gente,

mas devagar e lentamente,

todo o bem me desapareceu.

 

Na flor da minha idade

eu nem queria acreditar

que a velhice tinha tirado

e toda a nossa vontade.

Acreditem que é verdade

que eu já vivo apaixonado.

Porque quando eu vou para qualquer lado,

eu abalo(8) cheio de agonia,

porque já não tenho alegria.

Porque não posso cantar o fado.

 

Nos tempos que eu vivia,

nos meus tempos de miúdo,

brincava e fazia tudo

aquilo que ao diabo esquecia.

Eu cá nunca me aparecia

tudo aquilo que me apareceu.

Porque Deus é que me deu

a vida para eu penar?

Mas por já não poder cantar,

pra mim o fado morreu.»

 

Paulatino Augusto, Grândola, Fevereiro de 2007

Glossário:

(1) Na’: abreviatura oral de “não”.

(2) Fado: canção popular portuguesa geralmente interpretada ao som de guitarra portuguesa e viola, de andamento lento, de tom nostálgico, nos temas de amor ou saudade, ou rápido se associado à alegria, ao divertimento ou crítica política e social.

(3) Pra: abreviatura oral de “para a”.

(4) Prá: abreviatura oral de “para a”.

(5) ‘Tá: abreviatura oral de “está”.

(6) Severa: Maria Severa Onofriana (1820 -1846) é referenciada como a primeira cantadeira de fado, em Lisboa, e é um dos mitos e referências da história do fado em Portugal.

(7) Novidão: mocidade, juventude.

(8) Abalo: vou embora.

Para a execução deste glossário consultaram-se os seguintes websites: http://www.priberam.pt; http://www.infopedia.pt; http://www.dicio.com.br; http://aulete.uol.com.br; http://ofadodelisboa.blogspot.com/2007/03/o-fado-da-severa.html; http://www.infopedia.pt/$severa,2; http://acll.home.sapo.pt/portugues.html

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
Não canto mais o fado
1929
Paulatino Augusto

Contexto de produção

Comunidade - Poetas Populares de Grândola

Contexto territorial

Biblioteca Municipal de Grândola
Grândola
Grândola
Setúbal
Portugal

Contexto temporal

2007
Actualmente sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Grândola.

Património associado

A poesia alentejana de Grândola era dita em festas, feiras, locais de entretenimento e principalmente em tabernas.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Poetas populares em iniciativas esporádicas do Município de Grândola. Em Grândola, vários poetas populares participam na iniciativa Rota das Tabernas (16ª edição em 2010) realizada em Junho.

Existem vários Encontros de Poetas Populares, nomeadamente em concelhos do Alentejo e do Algarve.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL