Aqui viveu-se, vou-lhe contar uma história, porque vivíamos sempre quase do contrabando. 

Aqui a gente, o traficar... levava-se para lá ovos, o café - (...) na torrefação é que está o segredo. O café aqui sabe bem, lá aquilo é... há de ter a ver sempre com o segredo da moagem ou qualquer coisa. 

Então nós levávamos sempre os ovos, o café e outras coisas. 

E trazia-se depois o contrabando de lá: a pescada, o peixe - que era mais barato, era melhor. As senhoras até pegavam, até faziam tipo uma mandrana, traziam assim enroladas no corpo aquelas pescadas de Vigo, para aí com 7kg e 8 kg. Elas enrolavam aquilo para passar para cá. 

E andava-se aqui na vida quotidiana, no nosso dia a dia, almariando. Eles passaram um bocado atrapalhados. (...) Depois eles queriam também - é como tudo, acabam uns rameleiros vêm outros! [Risos] A gente acaba uma para vir outra.

Dantes eram os da alfândega que se coibiam para a gente passar e guardar, levam tanto para tapar os olhos. E agora se lhe levo uma coisa, cá fora na estrada, às vezes a coisa anda porque o contrabando há sempre. É o mal que é dessa coisita.