Designação: O Pintar e Cantar dos Reis em Cabanas de Torres
Freguesia: Cabanas de Torres
Concelho: Alenquer
Distrito: Lisboa
Data de recolha:
2015-2016
 

Inventário PCI

O Pintar e Cantar dos Reis em Cabanas de Torres

O Pintar e Cantar dos Reis - o ritual começa pela constituição do grupo que anualmente, na noite de 5 para 6 de janeiro, se reúne sem ensaios ou combinações elaboradas. O grupo junta-se espontaneamente e parte pelas ruas da povoação. Os membros que vão pintar seguem à frente e, em silêncio, munidos das tintas, pincéis e lanternas pintam as fachadas das casas com os tradicionais desenhos dos Reis. Mais atrás seguem, em maior número, os cantores o apontador e o coro. Em Cabanas de Torres cantam em locais estratégicos, para várias casas.

O Pintar e Cantar dos Reis tem em Portugal a sua maior expressão no concelho de Alenquer e em 2016 a celebração realizou-se em 9 povoações deste município, entre elas está Cabanas de Torres.

Transcrição

Caraterização

O PINTAR E CANTAR DOS REIS EM CABANAS DE TORRES*

 

*Resumo - ver versão completa, anotada e com fotografias no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 82-87).

 

Em Cabanas de Torres o Pintar e Cantar dos Reis de outras épocas era diferente do que se pratica hoje nesta e noutras povoações. Cantava-se principalmente à porta das tabernas, ao desafio, e as pinturas eram feitas a pedido, pagas pelas casas comerciais.

Durante perto de 15 anos não se pintou nem cantou os Reis em Cabanas de Torres e por isso o Grupo Folclórico de Cabanas de Torres reativou a tradição, altura em que as mulheres começaram a participar na celebração. 

Na noite de 5 para 6 de janeiro o grupo inicia o percurso pelas 21 horas no Largo da Faia, junto ao presépio. São cerca de 20 elementos, entre eles os pintores, o apontador e o coro. As pinturas dos Reis em Cabanas de Torres têm sofrido alterações: os desenhos sobre as atividades comerciais tornaram-se raros, reduziu-se o tamanho da sigla BRM (Bons Reis Magos) e ano da celebração que passaram a ser pintados com molde, em stencil e com spray. Em alguns Largos, pinta-se um vaso florido.

O apontador fica à frente do coro, ligeiramente afastado e lança dísticos que o coro repete. Ao todo são 32 versos sobre a viagem dos Três Reis, mais 2 versos só apontados referentes aos desejos de Boas Festas e outros 2 versos petitórios só cantados pelo coro.

Em Cabanas de Torres chegou-se a fazer o peditório dos Reis cuja receita servia para organizar um almoço para os reiseiros. Atualmente não realizam nem o peditório, nem o almoço.

A ORIGEM E HISTÓRIA DO PINTAR E CANTAR DOS REIS*

 

*Resumo - ver versão completa e anotada no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 17-24).

 

No século IV as celebrações da Epifania do Oriente chegam à Europa. Na Igreja do Ocidente o auto dos Magos difunde-se massivamente, auto esse que ao longo dos tempos sofre várias modificações dando origem a outro tipo de manifestações: práticas realizadas usualmente no espaço público, dirigidas por populares e que incluíam desfiles pelas ruas, peditórios acompanhados por bênçãos e versões resumidas e musicadas do auto por exemplo o Cantar dos Reis em Portugal, os Vilhancicos em Espanha e o Cantar da Estrela na Alemanha (Coelho, org. Leal, 1993; Peixoto, 1995; Weiser, 1952).

Associada à cerebração da Epifania está a tradicional Bênção do Giz (descrita no antigo Ritual Romano) - uma cerimónia que utiliza um giz abençoado para, no dia 6 de janeiro, se inscreverem as iniciais CMB ( Christus Mansionem Benedicat ) e o ano nas portas. Ritual de onde pode provir o costume de, na Noite dos Reis, se pintarem votos de felicidades à entrada das casas.

Na Península Ibérica o Dia de Reis começa a ser celebrado devido à chegada dos Frades Franciscanos e Dominicanos a este território. Este facto permite sublinhar a importância de Alenquer no processo de difusão desta celebração. Em Portugal, foi na região do concelho de Alenquer que estas Ordens foram primeiramente acolhidas entre 1212 e 1218 Frei Zacarias chega a Alenquer para fundar um convento Franciscano e Frei Soeiro Gomes, primeiro provincial dominicano da Península Ibérica (1221-1223) funda, no termo do concelho de Alenquer, no alto da Serra de Montejunto, o primeiro convento Dominicano português.

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Festividades cíclicas Rituais colectivos
O Pintar e Cantar dos Reis (Cantar dos Reses ou Cantar dos Reis)
Grupo dos Reis de Cabanas de Torres
não se aplica

Contexto de produção

Cabanas de Torres
não se aplica

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Ações promovidas pelo Grupo dos Reis de Cabanas de Torres:

Garantir a execução do Pintar e do Cantar dos Reis na sua povoação;  Garantir a transmissão da prática, motivando e ensinando as gerações mais novas; Reunir os recursos necessários para a execução da expressão cultural (materiais e humanos); Associar-se como parceiros às ações de salvaguarda promovidas pela Câmara Municipal.

Ações promovidas pela Câmara Municipal de Alenquer:

Apoio logístico aos Grupos dos Reis do concelho de Alenquer; Estudo e Inventariação do Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer (2016); Realização de um documentário sobre a expressão cultural (2016); Publicação de um livro sobre a expressão cultural; Continuação da organização dos Encontros sobre o Pintar e Cantar dos Reis entre os membros de todos os grupos (já promovidos em 2013, 2014, 2015 e 2016)  Continuação da organização do "Roteiro Turístico Noturno" - que permite assistir ao Pintar e Cantar dos Reis em várias povoações, na noite de 5 para 6 de janeiro. Atividade promovida com o consentimento dos Grupos e respeitando o recato da manifestação (já promovido nos anos de 2015 e 2016).

Em Cabanas de Torres várias gerações estão envolvidas na organização da tradição. A comunidade não considera a celebração em risco ou ameaçada e a transmissão geracional dos conhecimentos e práticas encontra-se atualmente assegurada pelo Grupo dos Reis. São visíveis, contudo, alterações que podem colocar em risco a elaboração dos desenhos tradicionais realizados à mão (o desenho de vasos  com flores e os desenhos representativos das profissões e doutras atividades dos habitantes ). Os desenhos são substituídos pela inscrição das siglas BRM junto ao ano, pintados com moldes metálicos e a tinta pulverizável aplicada com sprays (substituindo as tintas de água ou as antigas terras diluídas em água). Justificam essa mudança com a "necessidade de não demorarem muito tempo na execução das pinturas". Um sinal claro da desvalorização dos desenhos tradicionais e do perigo da sua manutenção na prática.

Contexto territorial

Cabanas de Torres
Cabanas de Torres
Alenquer
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2015
Realiza-se anualmente na Noite de Reis - de 5 para 6 de janeiro

Património associado

Não se aplica

Instrumentos para pintura -  antigos moldes das inscrições.

Não se aplica.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
activa
Descrição da transmissão
Aprendizagem informal Aprendizagem combinada oralidade/escrit Acesso livre Periódico Com recurso a lugar
Agentes de tramissão

Conhecedor do ritual, o apontador é usualmente o elemento que assume o papel de porta-voz do grupo e partilha com o pintor mais velho e com os elementos mais dedicados ao grupo a responsabilidade de manter a prática transmitindo-a às novas gerações.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Registo vídeo / audio
José Barbieri, Carolina Carvalho, Eva Ângelo, Filomena Sousa, Maria Ana Krupenski e Miguel Martinho
Entrevista
Filomena Sousa e José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL