Inventário PCI
Torres Vedras
"Brincar descalça"- Relato de um episódio em que foi apanhada descalça para poder ir brincar.
Maria Francisco, Ano de nascimento 1939, Matacões, Torres Vedras, Registo 2010.
Transcrição
Brincar descalça
Eu, em miúda, a minha mãe precisava de ir vender os queijos, porque ela fazia queijos que vendia. E havia cá uma senhora que trabalhava de costura. E então, como ela trabalhava de costura, tinha uma casa murada toda à volta e aquilo era fechado. E a minha mãe deixava-me ali para eu não andar na brincadeira, para ficar lá ao pé daquela senhora. De maneira que eu via os outros a brincar e tinha pena de não vir para a rua brincar com os outros, não é? E essa senhora tinha do lado de fora do muro uma meda de mato. Porque o pátio era de estrumado, era mato para se pôr no pátio e depois ia fazendo ali o estrume; era assim. E eu tinha a desculpa de ir para o quintal para ir buscar os alfinetes – quando sacudiam de varrer a casa e apareciam lá uns alfinetes e eu ia apanhar uns alfinetes! E um dia eu era tão pequena… mas pensei em sair. E tinha aquela coisa de ser pequena e a gente, para não se fazer barulho, descalça os sapatos e vai descalça para não se fazer barulho, não é? Era tão tapada ainda! Fui apanhar:
- Ó Dona Prazeres, vou apanhar uns alfinetes, vou ver se arranjo uns alfinetes.
- Então vá, vai lá para o quintal.
Para o quintal… Lá atiro os sapatos cá para baixo para estrada e vou passar a meda de mato descalça. Isso é que foi o sacrifício da minha vida! Bem: mandei os sapatos cá para baixo. Ela estava a ver por dentro da janela – nunca disseram nada. Chego cá abaixo para pensar que ia brincar… Chego cá abaixo, já a senhora estava ao portão:
- Psssht, já para dentro de casa! Já para dentro!
Maria Francisco , Torres Vedras, Registo 2010.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Relatos partilhados em encontros, festas e actividades promovidas pelo Município e Junta de Freguesia