nome: |
Maria Bernardina |
ano nascimento: |
1939 |
freguesia: | Mora |
concelho: |
Mora |
distrito: |
Évora |
data de recolha: | 2007 |
Mora "O rapaz porco" - Um rapaz nasce encantado e só a persistência de uma esposa lutadora lhe quebra o feitiço e permite uma vida de felicidade a dois. Maria Bernardina; Mora; Concelho de Mora, Évora Registo 2007. Era uma senhora, também na' tinha filhos, e atão, um dia, disse: – Ó Me' Deus! Quem me dera ter um filho. Nem que fosse um porco gordo! Realmente ela teve esse filho – o porco gordo. E, atão, o porquinho gordo, um dia 'tava à janela e viu passar um casamento. Porco – Ó mãe! Que é aquilo que vai além? Mãe – É um casamento, filho! Porco – Ah! Atão, eu também quero casar! Mãe – Ó filho! Atão tu és um porco gordo... Quem é que quer? Porco – Quem é que quer?! A filha do sapateiro. A mais velha! Vai lá pedir ao sapateiro pa' me dar a filha! Lá moeu a mãe. A mãe foi ao sapateiro, pa' dar a filha. Mãe – Olhe, o meu filho quer que você case a sua filha. Que ele quer casar com ela. Casaram. Mas ele, nessa noite, matou a filha! No outro dia, a mãe chegou lá: – Ó filho! Olha o que tu fizestes! Porco – E agora quero casar, outra vez. Mãe – Atão tinhas uma mulher – mataste-a. Agora queres outra? Porco – Quero! Quero a filha do sapateiro, a do meio! Vá lá pedi-la, que ele... Ele dá-me a filha! Lá foi lá a mãe chatear o sapateiro. O sapateiro muito zangado, mas lá lhe deu a filha. E ele fez-lhe o mesmo! O porquinho gordo fez-lhe a mesma coisa! Mãe – Ó filho, atão tu fizeste um trabalho destes outra vez! Porco – E agora quero casar, outra vez! Mãe – Não pode ser! Atão, já tiveste duas mulheres, mataste-as! Porco – Mas vou casar com a filha do sapateiro, com a mai' nova! Assim foi. Naquele dia casaram. Á noite, ele disse pra ela: – És capaz de despir sete saias, enquanto eu dispo sete peles? Moça – Vou tentar. Ela despia uma saia, ele despia uma pele. Ao fim das sete, um príncipe lindo, lindo, lindo – encantado. Lindíssimo! E diz-lhe pra ela: – Tu agora não contas o segredo! – Se a gente tiver um segredo, a gente vai contar já, não é? – Tu agora não contas o segredo a ninguém! Este segredo é só nosso! Mas... Chegou lá a mãe dela (porque pensou que a filha 'tava morta e 'tava bem viva!): – Ó filha, como é que foi!? Moça – Não! Não posso contar. Mãe da moça – Ah filha, mas é só pra mim! Assim que ela contou à mãe, ele apareceu logo. Apareceu e disse: – Agora, perdeste-me para sempre! E se me quiseres ir achar tens de ir correr mundo. E ela, coitadinha, correu mundo. Correu, correu... Já tinha os pés já feridos e já tudo e não conseguia achar o príncipe encantado dela (que era lindíssimo). E atão, um dia, ela passou e procurou ao Sol se viu o príncipe. O Sol disse que não. Procurou à Lua – também não. Também, ninguém viu. Procurou à prima da Lua: – Também não vi. E atão, olha, procurou ao Vento: "pode ser que o vento saiba". E atão procurou ao Vento. E o Vento disse: – Olha, esse homem 'tá pa' casar amanhã! Eu passei lá hoje, fiz um grande pé-de-vento. – Vento d'um cabrão! Vento de um corno! – Que é o que a gente, às vezes, costuma também dizer. Isto o conto é contado assim, né? – E atão, no fim, ficaram zangados comigo, que eu enchi-lhe os bolos de pó! E atão no caminho, antes dela lá chegar, encontrou uma velhinha. E a velhinha disse: – Olha, levas este faqueiro que ainda te vai ser preciso. E leva daqui esta toalha muito bonita, que também te vai ser precisa. – E assim foi. Ela foi. E o senhor casou. E ela disse-lhe, quando lá chegou à noite, pa' senhora que tinha casado com o príncipe: – Olha, a senhora deixa-me dormir uma noite co o seu marido? 2ª. Esposa – Ai! Ainda hoje casei e agora já vai dormir uma noite com o meu marido! Não. Ainda hoje casei! – E não quis. Moça – Oh, mas eu dou-lhe esta toalha, que é tão bonita! E disse assim a empregada: – Ah! Deixe lá! Ela dá-lhe a toalha, que é tão bonita, e a senhora fica ca toalha. E assim foi. Mas ela deu-lhe o chá das dormideiras, o senhor deixou-se dormir nunca mais (...) ela falava pra ele e ele não ouvia! Mas, por baixo, tinha um cocheiro (que era uma coisa de cavalos) e, atão, ela dizia pra ele: – E não te lembras disto? Não te lembras daquilo? Na' te lembras assim? Na' te lembras assado? E ele na' respondia, porque 'tava a dormir na' ouviu. Mas o cocheiro, em baixo, ouviu e dizia assim: – Ó patrão? Atão, o que é aquilo?! Esta noite era a sua mulher a falar e você na' ouvia? "Na' te lembras disto e daquilo? E disto e..." E ele começou-se a recordar de tudo, do que é que tinha dito pa' outra senhora. Porco – 'Tá bem! Nesse dia, à noite, apareceu lá a mulher outra vez: – Olhe lá, deixe-me dormir mais uma noite co seu marido! 2ª. Esposa – Já? Outra vez?! Você dormir mais uma noite com o meu marido? Atão, na' vê que não? Moça – Mas eu dou-lhe este faqueiro! É muito bonito. Mas a empregada – Ah! Dá-lhe o chá das dormideiras e ele fica lá a dormir à mesma. E assim foi. E ela disse assim: – Olha, beba lá o chá das dormideiras! Porco – 'Tá bem. Põe aí que eu já bebo. Mas ele despejou o chá pra dentro do penico e na' bebeu. E ela falou com ele: – Olha, na' te lembras disto? Porco – Lembro. Moça – Na' te lembras assim? Porco – Lembro. Moça – Na' te lembras assado?! Porco – Lembro! Tudo! Quer dizer, aquilo que ela dizia, ele lembrava-se de tudo. Porco – Atão, 'tá bem. Depois já não abalas daí! No outro dia, 'tava na hora do almoço, 'tavam a almoçar e disse assim: – Ó padrinho! Eu tinha uma chave velha e agora tenho uma chave nova. O que é que pertence ficar a servir? É a chave velha ou a chave nova? Padrinho – È a chave velha. Porco – Tome lá a sua filha que eu na' me servi dela! – Entregou a filha ao pai (que na' se tinha servido) e ficou com a chave velha que era a mulher antiga. E atão eles ficaram assim: felizes para sempre. E ficaram contentes! Mas ela correu muito, muito, muito... Primeiro que ela conseguisse chegar e apanhar! Mas lá na Graça de Deus, lá o apanhou! Deus seja louvado e este conto 'tá contado! Maria Bernardina, Mora, Junho de 2007 Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Mora. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas. Participam em iniciativas do Fluviário de Mora e da Casa da Cultura. Destacam-se as seguintes actividades desenvolvidas desde 1999: - Encontro de Contadores e Histórias - 1999 a 2005 - Ti Tóda - Conta-me eum conto, estafeta de contos - 2001 a 2004 - As lendas vão à escola - 2005 - O Talego Culto - 2007 - O Talego ambiental - 2007 a 2008 - Comunidade do Canto do Lume
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