intervenção: | Clara Sarmento (CEI, ISCAP) - "O barco moliceiro da Ria de Aveiro: encenação de uma tradição" |
evento: | COLÓQUIO - CULTURA VISUAL URBANA E EXPRESSÕES DE ARTE POPULAR |
data: | 18 de Novembro de 2011 |
local: | Porto, ISCAP, sala de leitura informal da Biblioteca |
organização: | Centro de Estudos Interculturais (CEI) do ISCAP, Instituto Politécnico do Porto Laboratório de Antropologia Visual do CEMRI da Universidade Aberta |
resumo: |
“O Barco Moliceiro da Ria de Aveiro: Encenação de uma Tradição” estuda um objecto – o barco moliceiro da Ria de Aveiro – e o discurso por ele evocado, enquanto representação, invenção e reinvenção da cultura popular de uma região portuguesa. Contudo, esta comunicação pretende também ver através do objecto, isto é, “atravessar a [sua] opacidade inoportuna”, tal como propõe Michel Foucault em A Arqueologia do Saber. O barco moliceiro da Ria de Aveiro, mais do que um caso de tradição versus modernidade, constitui uma representação da identidade cultural de uma comunidade intimamente ligada ao ecossistema lagunar. Os painéis do barco moliceiro são assim representações simbólicas intersemióticas dos valores, práticas e representações partilhadas pela comunidade local. Os textos icónicos e escritos patentes em cada barco são produto de uma rede de circunstâncias ideológicas, sociais e económicas, dificilmente reconhecidas mesmo por aqueles que desenham, pintam e escrevem (e vivem) sob a sua influência. Ao longo do século XX e já no século XXI, o moliceiro e seus painéis participaram numa complexa dialéctica entre as representações do discurso oficial e dos media e a sua real função social, económica e simbólica, gerando todo um imaginário histórico, todo um “inventário” (cf. Gramsci), que motivou, contextualizou e sustentou esta forma única de arte popular. Mas, hoje em dia, o moliceiro participa também de uma lucrativa estrutura económica e turística organizada em redor do objecto-barco, que perdeu entretanto quase toda a sua tradicional função social e económica e foi reinventado como símbolo cultural da Ria de Aveiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que distingue esta região de outras regiões turísticas rivais. Trata-se aqui de uma metamorfose e não de uma ressurreição do objecto cultural, com novas funções dentro de um novo contexto marcadamente urbano, orientado pelas exigências do sector terciário. Contudo, os actuais agentes do turismo e da economia de mercado não se podem dissociar do imaginário histórico (ou do “inventário”) que motivou, contextualizou e sustentou esta forma de arte popular durante séculos, sob pena de criarem, também em Portugal, |