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Chegar aos 150 anos, sem interrupção, não significa fazer um caminho sem dificuldades. Os testemunhos são bem claros desse árduo percurso. A banda chegou a sair com 17 elementos, o que até pode ser considerado caricato, diz um dos antigos directores, “mas andou sempre para a frente”. Quando havia falta de tocadores ia-se à procura de bons executantes e acenava-se-lhes com o brio e a honra que era pertencer à Euterpe de Portalegre. Quando havia mais necessidade de dinheiro para arranjo dos instrumentos ia-se a todas as festas e romarias da região. Só assim foi possível persistir e resistir.

Falar da vida de uma Sociedade tão longa é falar dos que têm contribuído para a sua permanência e sustentação, muitos deles já homenageados publicamente e tantos outros representados em notícias e fotos que constituem o valioso acervo desta instituição.

Se, por um lado, o êxito e a competência musical da banda dependem da maestria dos músicos, não é de menor relevo, a formação do mestre, associada à persistência, à dedicação e à relação com os seus instruendos. Desde 1860, que os fundadores, encabeçados por Francisco José Perdigão (1840-1909), de apenas 20 anos, tiveram consciência da importância destes alicerces e os reforçaram de tal maneira que as gerações seguintes os receberam e transmitem. Este entusiasta e impulsionador era ele próprio compositor e deixou obras da sua autoria que demonstram bem desta preocupação, das quais se destacam os hinos da própria Sociedade Euterpe e dos Bombeiros Voluntários de Portalegre e ainda os da Senhora da Penha, da Fábrica Robinson, dos estudantes de Portalegre e do Grémio. Note-se que foi também ele o compositor da partitura intitulada “Salvé Cruz”, dedicada, em 1900, ao monumento Fim do Século erigido na Penha e de um original dedicado ao Papa Leão XIII (composto em 1892). Foi ele o primeiro maestro da então Sociedade Filarmónica Euterpe e um dos mentores da Associação de Socorros Mútuos Montepio Euterpe Portalegrense, fundada em 1866, cujos objectivos eram “melhorar a sorte dos associados e contribuir para a sua moralização”. Tinha por finalidade auxiliar os sócios doentes e temporariamente impossibilitados de trabalhar e as famílias dos que estivessem na condição de presidiários, bem como nas despesas de funeral dos que necessitassem.

Desaparecida em 1945, esta mutual, reflexo das preocupações sociais e cívicas da altura, desempenhou um papel preponderante na sociedade de então, tendo como sócios não só as elites locais que eram os sócios protectores ou honorários, como grande número de trabalhadores portalegrenses. Francisco José Perdigão surge como sócio ordinário e com a profissão de organista.