Acervo Domingos Morais

Arquivo de sons, instrumentos e canções tradicionais, organizado e cedido por Domingos Morais ao e-museu MEMORIAMEDIA.

Inicialmente, esta base de dados estava alojada no Alfarrábio da Universidade do Minho mas, dado que esse projeto deixou de estar acessível online, a nossa equipa  iniciou a sua reconstrução para preservar um recurso que nos parece fundamental para a compreensão do património musical português. Um trabalho que prossegue durante os próximos meses. Para já disponibilizamos 500 fonogramas que nos ajudam a compreender a música tradicional portuguesa, recolhidos pelo investigador e ainda por Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira. Em breve contamos apresentar mais dados contextualizantes, informação sobre os instrumentos utilizados e mais sons tradicionais portugueses.

 

Sobre os registos de Domingos Morais

História do projecto
Em Março e Abril de 1985, o Departamento de Música Popular da Westdeutscher Rundfunk de Colónia (Alemanha), uma instituição pública sem fins comerciais, que incluía na sua programação semanal cerca de 12 horas dedicadas a música étnica de todo o mundo, apoiou uma missão de recolha de música portuguesa em Trás os Montes e em Lisboa (incluíndo assim alguns grupos de música popular urbana e de emigrantes aqui residentes). O objectivo era gravar música e músicos que não tinham acesso a gravações de editoras comerciais para a realização de programas semanais de cerca de 50 minutos dedicados à música popular que se faz em Portugal.

A direcção científica do projecto foi assegurada por Domingos Morais, que selecionou as situações a documentar e a preparação das sessões de gravação com os participantes. Walburga Manemmann, da WDR de Köln, responsável pela programação daquela estação de rádio alemã, acompanhou a equipa técnica (que pela primeira vez gravou música popular portuguesa em suporte digital) e realizou posteriormente uma série de programas sobre Portugal. Uma cópia das gravações efectuadas foi oferecida ao Centro de Estudos de Etnologia, para consulta e divulgação, desde que sem fins comerciais.

 

 Sobre os registos de Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira

"Em 1960, fomos, pela directora do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian, Drª Maria Madalena de Azeredo Perdigão, encarregados de proceder à recolha dos instrumentos musicais populares do País, em vista a documentar, de modo tão completo quanto possível, esse elemento fundamental da nossa cultura. O empreendimento, que nenhuns ensinamentos ou experiências anteriores apoiavam, suscitou problemas e dificuldades muito consideráveis.

(...)Para o trabalho que empreenderamos calcorreámos vezes sem conta o País de norte a sul e de leste a oeste, acorrendo às suas festas, contactando cada vez mais intimamente com todo esse universo através da sua gente: mas esse trabalho, e mais concisamente a recolha dos instrumentos, feitos verdadeiramente no limiar das últimas possibilidades, foi por isso, às vezes, muito árduo. Grande número de espécies, e algumas de entre as mais importantes, pertenciam já então ao mundo dos «tempos perdidos», das coisas que só existem esquecidas em velhas arcas, desligadas da vida, ou até mesmo unicamente na memória incerta de pessoas de outra idade."

Ernesto Veiga de Oliveira, 1982. Publicado na Revista da JMP "Arte Musical", Número especial, por ocasião da Quinzena de Etnomusicologia (Outubro de 1982), pp. 6 a 10.