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nome: | Antónia de Lurdes M. Oliveira |
local: | Vila Verde de Ficalho |
freguesia: | Vila Verde de Ficalho |
concelho: | Serpa |
acervo: | António Ferreira Lopes |
transcrição: | |
Foi uma mãe e uma filha que forom a lavar à ribêra, e acharom um cagadinho. Ó e aquilo foi ’má álegria tã grande, chegarom a casa com o cagadinho, na sequé sabiom o que lh’haviom fazer ô cagadinho. E gôrdarom o cagadinho e forom pô’ ’ma panela d’ águ’ ó lume p’ra fazerem o jantar. O cagadinho vai e cai p’a dent’o da panela, e fica cozido. Elas começom à busca do cagadinho: –– E ond ’tá o cagadinho, e ond’ tá o cagadinho? Até que uma foi fazer o jantar e viu o cagadinho morto dent’ da panela, cond’ ela c’meç’ á chorar: –– Ai mãe, ai mãe! O nosso cagadinho ’tá aqui cozido dent’ da panela! Cond’ a mesa diz assim: –– O cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe e chor’ á filha, e ê sou tr’peça ponho-me de costas. –– e a mesa dê volta e pôs as patas p’ra cima. E diz o telhad’ assim: –– Ó mesa porque ’tás de costas? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’á mãe chor’ á filha, e ê sou tr’peça pus-me de costas. –– Pois ê que sou telhado destelho-me. –– e avoarom-lh’ as telhas. Vai ali um passarinho, poisa e diz assim: –– Ô telhado porqu’ é que tu na tens telhas? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se... –– E ê sou passarinho despen’-me. –– e o passarinho despenô-se. Vai o passarinho poisa numa árvore, e diz-lh’ a árvor’ assim: –– Ó passarinho porqu’ é que tu na tens penas? Cond’ o passarinho diz assim: –– O cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se, e ê sô passarinho despeni-me. –– Pois ê que sou arv’e desfolho-me. –– e avanou e cairom-lh’ as folhas todas. Apois forom ali os bois a c’mer e dizem-lh’ os bois assim: –– Ó arv’e porqu’ é que tu ’tás desfolhada? Dêxastes cair as tuas folhas todas? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chorá mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs- - se de costas, o telhado destelhô-se, o passarinho despenô-se, e ê que sou arv’e desfolhi-me. –– Pois ê que sou boi descorno-me. –– e arrencou os cornos, e ficou sem cornos. E o boi foi beber à fonte. E diz-lh’ a font’ assim: –– Ó boi porqu’ é que tu na tens cornos? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se, o passarinho despenô-se, a árv’e desfolhô-se, e ê que sou boi descorni-me. –– Poi ê que sou fonte seco-me. –– e secô-se. Apois foi lá a criada da rainha à água e diz-lh’ assim: –– Ai fonte, porqu’ é que tu te secastes? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se, o passarinho despenô-se, a arv’e desfolhô-se, o boi descornô-se, e ê que sou fonte sequi-me. –– Poi ê que sou a criada da rainha, mesm’ agora part’ a cantarinha. –– e pregou com a cantarinha numa pedra e partiu a cantarinha. E diz ela: –– Olhe senhora rainha ê nã trag’ água. –– Atã porquem? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se, o passarinho despenô-se, a arv’e desfolhô-se, o boi descornô-se, e a fonte secô-se, e ê que sou a criada da senhora rainha parti a cantarinha. –– Pois ê sou a senhora rainha, mesm’ agor’ arroj’ o cu por as brasinhas. E foi a rainha, arrojou o cu por as brasas e ficou com o cu quêmado. E diz--lh’ o rei assim cond’ se forom a dêtar: –– Ó rainha, porqu’ é que tu tens o cu tod’ quêmado? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe chor’ á filha, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se, o passarinho despenô-se, a árv’e desfolhô-se, o boi descornô-se, a fonte secô-se, a criada da rainha partiu a cantarinha, e eu que sou a rainha arroji o cu por as brasinhas. –– Pois eu que sou o senhô rei arrenco as barbas. –– e começou a arrencar os cabelos da cara. E depois foi ó barbêro. E diz-lh’ o barbêr’ assim: –– Ó senhô rei porqu’ é que você arrencou as barbas? –– Porqu’ o cagadinho caí’ na panela, chor’ á mãe e chor’ á fila, a tr’peça pôs-se de costas, o telhado destelhô-se, o passarinho despenô-se, a árv’e desfolhô-se, o boi descornô-se, a font’ secô-se, a criada da rainha partiu a cantarinha, a senhora rainha arrojou o cu por as brasinhas, e ê que sou o senhô rei arrenc’ as barbas. –– Pois ê que sou o senhô barbêro começ’ ó beliscã’ com tudo. E começou ó beliscão com o homem e esta hora ’tã’ comendo pão com melão e arroz com cação. |