• Nome: Vítor Alberto Aragonês Miranda
  • Data de Nascimento: 1967
  • Residência: Portalegre (freguesia da Sé).
  • Actividade profissional: Professor de Educação Musical.
  • Função no Grupo de Cantares: Director musical, músico.
  • Entrevista: 2010/2/11_ Portalegre_Sede do Grupo de Cantares
"Eu penso que desde cedo percebi a linha que o Grupo de Cantares tinha traçado. Este foi um grupo que sempre cantou, e apenas cantou, música por si recolhida nesta região (não só no concelho, mas também nos concelhos à volta). E é claro que apresentar os temas unicamente conforme nós os recolhíamos nem sempre era muito interessante. Por um lado havia que recolher, preservar, por outro lado, em termos de vida do próprio grupo, era importante vestir os temas de uma forma que os tornasse mais agradáveis de ouvir e que, portanto, permitisse ao grupo por um lado apresentar-se em palco, por outro lado, mesmo ter gosto em cantar – ser uma maior fonte de motivação para o Grupo de Cantares. E portanto o que sempre se tentou, e ainda hoje assim é feito, é preservar a melodia recolhida e depois tentar arranjar os temas com um arranjo que, de alguma forma, corresponda ao tema recolhido – quer em termos de melodia, quer em termos de contexto de recolha, portanto, da informação que nos é dada quando o tema é recolhido.

Normalmente é um trabalho mais sozinho, não é? Apesar de depois ser frequentemente dado a conhecer e experimentado acima de tudo. E já tem havido coisas que não resultam e, portanto, deixamos de lado e vamos vestir aquele tema então de forma diferente. Agora o momento de recolha é um momento fundamental, as informações que nos dão acerca daquele tema.

Sei lá, posso lembrar-me, por exemplo, a “Cantiga de Trabalho”. A “Cantiga de Trabalho” conforme nos é dito, sendo um tema de trabalho houve a tentativa de dar àquele tema… Tentar trazer ali alguma sonoridade que o identificasse com o trabalho e, portanto, ele é um tema apenas com adufes, com alguma percussão e enquanto se canta, portanto, os adufes [canta a melodia], portanto, tentar imitar, de alguma forma, o matraquear do trabalho, não é?

Tal como, por exemplo, assim o da “Estrela”, um tema bastante leve que nos é referido que era cantado pelos romeiros, portanto, quando iam para a romaria da Senhora da Estrela, em Marvão. As pessoas, enquanto se dirigiam para a romaria, cantavam esse tema e, portanto, esse tema tem um arranjo bastante leve, portanto de alegria e, portanto, é um pouco isso que tenta representar.

Tal como, por exemplo, se calhar, “Os Corcovados” que foi recolhido em Nisa e que nos dizem que Nisa foi fortemente influenciada pelas invasões francesas e ao que se diz (também ainda não verifiquei, ainda gostaria de o fazer melhor) Nisa, portanto, que tem alguma correspondência com o “Nice” francês e, portanto, é-nos dito que este tema foi deixado ali pelas invasões francesas. E, portanto, aquele é um tema que fundamentalmente tem uma flauta – um flautim – com uma caixa. Portanto, imaginando, portanto, aquelas formações militares francesas marchando com o flautim e com o matraquear da caixa. Portanto, existe aqui algum jogo simbólico, existe aqui o tentar contextualizar o tema com aquela informação que nos é dita, que nos é fornecida."