nome: |
Armando Domingos, Maria Barreiros, Maria das Dores, Maria Glória |
ano nascimento: |
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freguesia: | Riba de Mouro |
concelho: |
Monção |
distrito: |
Viana do Castelo |
data de recolha: | 2022 |
- A branda de St António
- A gaita de coqueira
- A gravidez de 3 meses
- A gravidez de gémeos
- A princesa e a moura
- Aguar crianças e animais
- As feiticeiras
- Calçar os socos
- Cortar a peja
- Criar o porco com duas cerejas
- Curar as frieiras
- Desenganir a criança
- Diz que nunê bô
- Erguer o ventre
- Falar à de Riba - criar o porco
- Falar à de Riba - encher chouriças
- Medos e acompanhamentos
- O carvoeiro casou
- O carvoeiro e o abade
- O carvoeiro e o burro
- O nome do gado
- O porquinho de St António
- Os diabos
- Os meses
- Os vários namorados
- Para a criança falar
- Rematação de St António
- Talhar a peçonha
- Talhar as doenças
Vários relatos sobre os Medos e Acompanhamentos Casos reais do quotidiano rural expressando crenças (procissões de almas; presságios de morte; almas penadas) Quando a gente saísse com o carro e as vacas se comportassem mal, dizia-se: «Andam aí os diabos soltos!». Quando saía com o carro e às vezes as vacas [não queriam]. As vacas às vezes eram mansinhas iam direitas, mas tinha dias que não, que elas rebentavam com tudo. Quando nós às vezes vínhamos, eu, o Zé, meu sogro, ali pelo censo abaixo que até o carro se punha de pé e as vacas estavam mansinhas e não queriam. Era para baixo e as vacas em lugar de irem lá para baixo parece que se punham de pé. O meu sogro tirava a fralda da camisa e untou-as assim com a fralda da camisa. Não sei que lhes fez, uma cruz com a fralda da camisa e depois já viemos bem. Esta história passou-se comigo, devia ter talvez 9, 10 anos. Vínhamos, eu e a minha mão com um carro ali na pegada. E vinham bem, os tourinhos. Dois bois já com 2, 3 anos. E eu vinha adiante e a minha mãe vinha atrás. A minha mãe ficara atrás por qualquer coisa. Um assustou-se, deu assim a volta por aquele Monte da Pegada abaixo e um morreu logo ali na hora. Ficou debaixo do carro. Ainda lhe cortamos o coiso, mas ficou logo ali. Eu apanhei medo. Ainda hoje tenho medo. Íamos com dois carros. Um com umas tourinhas novas que tínhamos - foi quando casei, há 37 anos. Criámos duas tourinhas. Eu levava as vacas (...) que essas vinham sozinhas até. Eu levava então o carro das vacas (...) e o Zé levava as touras, que andava-as a amansar, que eram umas tourinhas novas. Chegámos lá à beira da descida, que a descida é muito a pique e diz-me ele: «Segura aqui o carro das vacas para eu pôr uma tranca na roda.», para elas comerem. As vacas estavam a lanchar, metíamos na roda um pau daqui ali, que a descida é a pique, (...) para ir de arrasto. Só que as touras, foi lá à frente (embelam?), mas ao vê-lo tomavam medo, que ele, claro, amansava-as. Batia-lhes e sabe Deus o que lhes fazia, porque ele tinha que as amansar. Eu, ao me pôr na frente das vacas, ele ia a passar para trás meter o pau, fomos eu e o carro e as vacas tudo por aí abaixo até lá ao fundo. Amélia da Touça botou as mãos à cabeça e só disse assim: «A moça matou-se!». Ficou os (teus?) pais atrás, o carro, nós fomos quase tudo ria abaixo. O Zé saltou os valados, foi os apanhar abaixo. Se o meu Zé não saltasse os valados e não me [apanhasse] ia para (...?). E foi também com medo. Mas no meu caso também podia se dizer que foi um acompanhamento a passar. (...) Um acompanhamento que alguém ia morrer. Um tipo de um funeral que passava antes de [morrer]. Diz-se um acompanhamento. Explique-lhe essa do acompanhamento. Passou-se comigo essa. Tínhamos 3 vacas e íamos com elas para o campo da minha cunhada Sameiro. Eu ia com as vacas. (...) As vacas à minha frente. Uma presa e as outras atrás, lá íamos. Diz a minha tia Ana de Medelos: «Moça, arruma-te. Arruma-te depressa. Solta a vaca e arruma-te.». Assim. [Digo:] «Tia Ana, que foi?». [Diz:] «Solta a vaca e arruma-te.». Eu nisto pus-me assim de lado, soltei as vacas. As vacas [foram] aí acima. E ela diz-me: «Deixa-te estar aí quieta.». Nisto passou. Diz-me ela: «Pronto, agora já podes ir.». [Digo:] «Que foi Tia Ana?» [Diz-me:] «Foi um acompanhamento que passou aqui. Vai morrer alguém.». Dali a 3 dias morreu uma pessoa e passou ali mesmo, na mesma hora. E as vacas, passou aquilo, ficaram calmas outra vez. Na nossa casa, estávamos todos na casa. Os filhos, o pai e eu, à noite, já tínhamos comido. E uma galinha a cantar na cozinha. E diz assim o pai à Sameira: «Tu não meteste as galinhas todas? Anda aí uma!». Todos a procurar a galinha. Dizia ela, até falava mal: «Eu meti as galinhas todas! Não deixei nenhuma fora.». «A galinha anda aí, escuta.». E a galinha [cacarejava]. E ver a galinha? Foram ver a corte onde estavam - estavam todas. E para o outro dia morreu uma senhora desta casa. E na hora de sair o funeral, uma galinha - mas aquela era verdadeira - foi lá a casa. (...) Essa foi comigo, foi verdade". Era solteira, eu morava aqui também, e para o outro dia à mesma hora do funeral que morreu a Tia Dália, a galinha estava lá. Eu estava no funeral, mas [fui] a casa. E a galinha [estava lá]. A minha irmã Quinas, estávamos sentadas à porta da casa da minha mãe de onde nos sentávamos dantes, todos ali. Quando a minha irmã era viva sentava-se muito encostada à parede da casa de minha mãe. E diz assim minha irmã Quinas, ninguém viu: «Olhai Maifina acolá no meu quarto, com o xaile.». Assim todas. E digo-lhe assim, eu era nova: «Minha madrinha, você que diz? Onde está a Maifina?» [Diz ela:] «Está. Olha acolá a moça a passar com o xaile.». Fomos ver, não havia Maifina nenhuma. E dali a três dias morreu a Maifina também. Ela depois morreu na nossa casa. Eu não vi. Nós estávamos ali 3 ou 4, só a minha irmã é que viu. Isso é que era o Acompanhamento... A minha mãe via muito. [...] mas nem toda a gente via! Eu que não veja, porque se não morro eu antes do que ia morrer. Eu também, nunca vi." (...) Contava a minha sogra, quando casou o (Maneço?), o irmão dela, ele casou na Granja. Depois diz que foram de noite, de madrugada, para a boda. Eram irmãos. Ela diz que levava um sapato à cabeça com as coisas que precisava e iam para a Granja, para ele casar. E ao tirar a (...?) de ouro, diz que ouviram uma banda de música. Ela diz que ouviu uma música, uma banda. Que lhe diz ela assim: «Estás a ver, Maneço? Querias vir cedo, ainda vai aí a música para uma festa». E que lhe diz ele: «Anda para dentro, anda já.». E que depois mais tarde diz: «Olha, não era nada para uma festa. Eu tenho ouvido ali muitas vezes.»." E olhe, eu vou para a Coutela de perto e bem que me ponho a ouvir a ver se ouço [e nada]" Era meio-dia em ponto. Nós na Coutada a carregar mato, mais o meu marido e a minha sogra. Ó Rosa, mas ao meio-dia já podia andar a música. Ali a soadeira... de maneira que nós parámos e então a banda de música a tocar uma grande peça, ali certinha. Ou então enganou-se com as horas. No relógio foi à meia-noite. Depois sentou-se lá, naquela banda, ela disse, à espera que fosse dia. Uma música toda a noite. De manhã cedo chegou, veio subindo com as vacas. – Cotinha, já está aqui? – Ó tio Vitorino, eu já estou aqui desde a meia-noite! Mas uma festa, não sei onde eu, uma música que passou-se bem o tempo! – Ai, Cotinha, Cotinha! Diziam que andava lá uma banda de música. E ali em cima na do (Gilberto?), também. Ali é um Padre, caramba. Pergunta-lhe ao Armando, que diz que fugiu uma vez de lá todos a sete pés. (...) Deixa-me agora contar eu esta. O (Gil?) tem uma Coutada cá, lá para cima. Onde terminam as árvores e começa o monte, há lá Coutada de (Gilberto?). Tem uma casa no meio. E diziam que andava lá um Padre, o espírito de um Padre que andava por ali. (...) Éramos nós todos novos, os rapazes ali de Quartas fomos aos ninhos. Fomos aos ninhos e andávamos lá todos contentes, aos ninhos, queríamos dos de gaio que era para fazermos arroz com ele, se apanhasse um ninho de gaio. Quando tal diz um: «Eu vi o Padre.». Diz outro: «Eu também o vi, eu também o vi! Não vistes acolá aquelas folhas ali?». Todos nós vimos o Padre, eu também o vi. Começámos a fugir, só parámos no lugar. E nenhum de nós viu o Padre, mas o medo era tanto. Assustaram-se uns aos outros! Todo vimos o Padre, ali não houve nenhum que não tivesse visto o Padre. Toca a correr até Quartas. (...) De mota não se vê, há que ir dentro da Coutada. É dentro da Coutada! Tem lá uma casa que ainda é assombrada! Tem uma casa. Eu já estive lá dentro. Uma vez eu, o Evaristo e o Francisco entrámos lá dentro. – E não estava lá dentro o Padre? – Estava nada, estava lá tudo velho, podre a cair. – E não lhe deu medo?" – Nós éramos pequenos, eu e o Francisco somos da mesma idade, mas tínhamos um mais adulto connosco e ele animava-nos. Se nós não fossemos ele dizia que nós éramos medricas, fazia esse jogo: «Sedes cagões, sedes medricas.». E nós medo tínhamos, mas... – Mas como foste de propósito não apareceu. E esse aparecia se fosses a não pensar naquilo. – Mas quando fomos aos ninhos um disse: «Eu vi o Padre, eu vi o Padre.», todos [disseram:] «Eu também vi, eu também vi.» Ninguém o vira, mas pronto, deu-lhes medo!
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