Morre o pobre e morre o rico

 

 

Morre o pobre e morre o rico

Morre o arremediado

Quem nasce, tem que morrer

É assim que está marcado

 

Morre o bom trabalhador

Morre o que não vale nada

Morre gente bem formada

Desde engenheiro a doutor

Morre gente de valor

Morre o feio e o bonito

Já por vezes tenho dito

Que aqui existe igualdade

Diz o povo e é verdade

Morre o pobre e morre o rico

 

Se a vida fosse vendida

Ai do pobre, o que seria

O rico nunca morria

Com dinheiro comprava a vida

Estava sempre garantida

A vida de um abastado

Enquanto o pobre, coitado

Enchia-se de dinheiro

Pra pagar ao cangalheiro

Morre o arremediado

 

Também morrem os que vão

Às missas no dia-a-dia

Rezar à Virgem Maria

A pedirem-lhe perdão

Morre o padre e o sacristão

Morre o que não sabe ler

Eu arrisco-me a dizer

Que aqui não há galo de Entrudo

Ao resumir isto tudo

Quem nasce, tem que morre

 

Morre o velho e a criança

Morre-se em qualquer idade

Parece uma crueldade

Morrer-se logo à nascença

Mas se o destino assim o pensa

Terá de ser respeitado

Eu não sei se está errado

Nem ninguém pode afirmar

Todos têm que aceitar

Que é assim que está marcado

 

Informante: Manuel Domingos da Silva

2012/Montemor-o-Novo