Eu tenho uma navalha

 

 

Eu tenho uma navalha

Da melhor marca que há

Corta bem, nunca falha

E eu posso mostrar-lhe já

 

 

É uma navalha encarnada

E os gastões são doutra cor

Meto-a seja aonde for

Precisa é de andar afiada

Tenho-a sempre bem estimada

Da maneira que trabalha

Sei que qualquer dia falha

Mas eu tenho que aceitar

Mas hoje posso afirmar

Que tenho uma boa navalha

 

Uma moça muito corada

Com vergonha de me dizer:

“Tu tens aí, eu quero ver

Essa navalha encarnada.

Venho pedi-la emprestada,

Precisava dela já!

Se ma pudesses deixar cá,

Para mim era uma festa,

Que uma navalha como esta

É da melhor marca que há!”

 

E uma que a quis afiar

Ainda eu andava na escola?

Mas achou-a rija na mola

Não foi capaz de a fechar

Começou a querer chorar

E disse: “Já não quero essa navalha.

Se a minha mãe sabe, ralha!”

Para evitar mais confusão

Dei-lhe um fiaço mesmo com a mão:

Corta bem e nunca falha.

 

E uma bela rapariga

Que um dia se me ofereceu?

“Essa navalha, afio-a eu,

Tenho a pedra aqui escondida.

Mesmo ao fundo da barriga

É o sítio onde ela está.

Mas a navalha chega lá!

Afia-a quando quiseres.

Se do sítio não souberes

Eu posso mostrar-lhe já.”

 

Informante: António Relvas Inácio

2012/Montemor-o-Novo