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autor: Teresa Perdigão

Os pequenitos que participaram na marcha popular do Bairro da Boavista, nunca imaginaram que iriam estar na origem de uma das mais activas associações da cidade de Portalegre. Também não supuseram que estavam a criar os primeiros rebentos que viriam a transformar-se, dias depois, no Rancho Típico Regional da Boavista.

Era o ano de 1967. O Bairro da Boavista havia sido inaugurado em 1965. Por iniciativa de três amigos e dinâmicos moradores, o bairro deu-se a conhecer durante as festas dos santos populares, organizando a sua primeira marcha. Estaria na origem desta iniciativa arranjar fundos para as obras da capela de Santana. Os três eram membros da Confraria do mesmo nome.

Não esperavam eles, Carlos Fabião Vintém, António Lagarto e Álvaro Parreira, que lhes caísse em cima a responsabilidade de manterem vivo o entusiasmo das crianças que nela haviam participado, bem como o das mães e pais que viram na dança e nos cantares uma oportunidade para darem aos filhos formação e ocupação. A insistência foi muita e, apesar de os organizadores tentarem fazer compreender que não tinham meios nem conhecimentos para lhe darem continuidade, o resultado não lhes foi muito favorável.

Porém, para criar um rancho havia quase nada. Não havia nem trajos, nem sede, nem ensaiador, nem instrumentos, nem repertório. Havia vontade, muita insistência e crianças, sobretudo meninas, cujos nomes ainda são recordados, perante a única fotografia que testemunha a marcha de 1967 – o Tó Zé, a Mena, a Lena, as filhas da Virgínia, a filha do Fabião, entre outros. Era este o núcleo que viria a dar ao bairro o Rancho Típico e Regional(1) que, por força do empenhamento, nasceu um mês depois da marcha ter saído à rua.

“Vimo-nos envolvidos num processo da mais alta responsabilidade” diz, 43 anos depois, Álvaro Parreira.

(1) No Rancho, para completar os pares, vários rapazes foram recrutados no Internato de Santo António.

 


 

 

Se não havia ensaiador, nem quem percebesse de dança, nem recolha de cantares, a primeira urgência era encontrar alguém que suplantasse estas dificuldades.

Era sabido que um funcionário bancário, natural de Santo António das Areias, de nome João Nunes Vidal, era um apaixonado por folclore. Um verdadeiro apaixonado! Este termo tem de ser reforçado, como o reforçam sempre as pessoas que dele falam. Um apaixonado que passava todos os seus tempos livres de gravador na mão, calcorreando a serra, com a crença de que o que fazia era essencial para que os saberes dos trabalhadores da região não se perdessem.”Foi o primeiro gravador que apareceu na região. Muitas vezes tinha de o esconder para as pessoas não se assustarem”, afirma João Vidal, hoje já arredado das lides do folclore, por razões de saúde, o que não lhe retira o “brilhozinho nos olhos” com que fala dessa altura.

Parece não ter sido difícil trazê-lo de imediato para dar continuidade ao entusiasmo nascente do êxito da apresentação da marcha no desfile da cidade. Graças ao seu saber e à sua experiência, a 29 de Julho , o Boavista apresentava-se no salão de festas do seminário, com um repertório de uma dezena de balhações .


 

 

Logo a 31 do mesmo mês, a Direcção formada por Presidente, Secretário e Tesoureiro, respectivamente, Carlos Fabião Vintém, António Lagarto Gonçalves e Álvaro Curinha Parreira, os autores da ideia da marcha, dá início ao livro de contas que abre nestes termos: “Serve este livro para nele serem escrituradas as receitas e despesas do Rancho Típico Regional da Boavista”. Como receita do referido espectáculo anotaram 3.799$00 acrescida de uma oferta do ensaiador João Vidal no valor de 322$50. Nesse ano terminaram a sua acção com um saldo positivo de 38.606$00.


Havia, pois, ensaiador, balhadores(2) e algum dinheiro, mas os fatos utilizados tinham sido emprestados pela Junta de Freguesia de Urra e, rancho sem trajo não pode dançar, tal como “rouxinol sem asas não pode voar”. Ultrapassar este problema foi a primeira preocupação. De facto, analisando as primeiras despesas, depreende-se desta necessidade. Compraram-se tecidos, pagou-se a costureiras e sapateiros, fez-se uma bandeira(3), adquiriram-se tarros, foices e contrataram-se tocadores de acordeão, viola, banjo, clarinete, ferrinhos e castanholas. Segundo testemunho do tesoureiro, a fábrica de lanifícios de Portalegre ofereceu alguns tecidos, as lojas locais facilitaram o pagamento e o pai de António Gonçalves, ele próprio sapateiro, deu uma ajuda grande. A casa do Álvaro Parreira era a oficina, o ponto de apoio às costuras, às provas e ao trajo, conforme assegura o então secretário e funcionário da Câmara Municipal de Portalegre, António Gonçalves. Além de alfaiate, António Parreira era casado com Cesaltina(4), costureira, de profissão. Era meio caminho andado. Mães e crianças faziam um incessante corrupio lá para casa, ajudando em tudo o que era necessário.

(2)Balhador e balhadeira são os termos usados localmente para designar o homem ou a mulher que dançam num balho, quer dizer numa dança de cariz popular. João Vidal, primeiro ensaiador do Grupo, hoje com 70 anos, garante que, dizer-se antigamente que fulano ou sicrano bailava, tinha um sentido depreciativo. Havia que dizer balhava, neste caso.

(3) Esta bandeira, ainda existente, mas já não usada pelo GFCB, por não corresponder aos objectivos actuais do Grupo, foi desenhada por João Vidal e bordada pela costureira Maria Emília Serra, conhecida por trabalhar para a casa José Elias.

(4) A quem, no 40º aniversário do Grupo, Henrique Salsinha, ex-presidente, presta homenagem. Cf. Brochura de 2007, pg.22 Fazem parte do acervo do Grupo 130 trajos, dÉ também de realçar o trabalho das costureiras que têm acompanhado o Grupo ao longo dos anos, como: Joaquina Mão-de-Ferro, Rita Miranda e Angélica Farto.


 

O rancho actuava em localidades vizinhas e em Lisboa, como por exemplo, na Casa do Alentejo, e em Portalegre, com frequência. Teve na Câmara Municipal e no Governo Civil os seus principais apoiantes financeiros e no ensaiador o seu principal motor. “Era como um carro à manivela. O Sr. João Vidal não parava de dar à manivela e o carro não parava. E nós tínhamos de andar também”, confirma António Gonçalves.

Porém, 15 meses depois, o ensaiador afasta-se, segundo o seu próprio testemunho, devido a exigências profissionais. Mas, diga-se em nota de grande importância para a história desta associação, deixando um considerável acervo de recolhas, de melodias e de recomendações sobre os trajos. É baseado nestes ensinamentos que, em 1968, António Lagarto Gonçalves elabora um documentoonde refere que os trajos “obedecem em todo o pormenor e com todo o rigor ao que se usava em épocas passadas, na cidade e na região” e assegura que as danças e cantares foram recolhidas junto de pessoas idosas da cidade e das suas freguesias rurais, sendo todo o repertório baseado em elementos dignos do maior crédito. Também os músicos vestiam já com “todo o rigor, trajos de festa e trajos de trabalho da região” . O clarinete usado, anotava ele, era para “evocar as antigas gaitas de pau”, já na altura difíceis de encontrar. Verificamos, portanto, que João Vidal deixou um espólio incalculável ao Rancho que ajudou a formar – recolhas, orientações e ensinamentos.

O desfalque causado pela sua inesperada saída é remediado por Álvaro Parreira que, segundo as suas próprias palavras, pede colaboração à “melhor bailarina, à Lena”, que lhe indica as marcações das danças e contribui para que ele assuma durante mais de 20 anos as funções de ensaiador. Tinha o apoio dos seus colegas, tinha os apoios financeiros das entidades locais, tinha 8 pares de adultos, o mesmo número de juvenis e 6 de infantis e muita vontade em levar para a frente o rancho, não só por questões sociais, mas também, como afirma, pela vaidade incentivada pelo êxito que o Grupo conseguia atingir em todas as participações. Faltavam-lhe ensinamentos e experiência, mas o rancho fazia-se notar em todos os festivais onde participava, ganhando prémios e arrancando louvores(5). Do Secretariado Nacional de Informação, emanavam directrizes que diferiam do rumo que o rancho hoje prossegue e que fazem dele o Digno representante das tradições cantadas e bailadas pelo povo e Digno Mensageiro do Folclore Alto Alentejano, como é referido, já em 1987(6).Talvez por isso, o período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 abalou o seu funcionamento, reduzindo sobretudo o número de actuações sem, contudo, o paralisar. As Direcções iam-se sucedendo, com a duração de 4 anos, mantendo-se Álvaro Parreira, como ensaiador e forte dinamizador do Grupo(7).

(5) A RABECA, jornal local, faz eco deste sucesso.

(6) Desdobrável publicado pelo Grupo Folclórico e Cultural da Boavista.

(7) Foram os seguintes, os Presidentes do Grupo: Carlos Fabião Vintém; José Baptista Mourato Ceia; Joaquim Grave Caldeira; Martinho Dias; Henrique Salsinha; Carlos Garcia de Castro; Eleutério Janeiro (foi a morte súbita e precoce que não lhe permitiu terminar o seu mandato) e, actualmente, Joaquim Rebelo.


 

 

Em 1979 foi escolhido pela Direcção Geral dos Assuntos Políticos e Culturais para representar Portugal na Feira-Exposição “Terres des Hommes”, em Montreal (Canadá), onde permaneceu 59 dias, durante os quais fez 200 demonstrações. Antes, o Grupo passa a ser designado por Grupo Folclórico e Cultural da Boavista (GFCB), o que, como refere Manuel Braga, membro da Direcção desde 1989, não é do seu agrado, nem da actual Direcção, preferindo Rancho Típico Regional da Boavista, precisamente porque o Grupo pretendia ser o mensageiro da tipicidade do Alto Alentejo, especialmente, da região de S. Mamede.

Certamente que as ideias emergentes da revolução de Abril muito contribuíram para que as práticas deste Grupo se fossem alterando, nomeadamente a estreita relação com o poder autárquico e os princípios de rigor pedagógico que orientavam os directores. Ouvindo os de outrora e os actuais apercebemo-nos claramente das mudanças que o tempo provocou, por exemplo, no que diz respeito à relação entre jovens. Deixou de haver uma separação total entre rapazes e raparigas, como acontecia nas saídas que se efectuavam de camioneta onde, à frente, seguiam as meninas e atrás os rapazes, separados por uma ou duas fileiras de mães.

Quase até finais dos anos 80, a actividade do Grupo prosseguiu, bastante apoiada por Tomaz Ribas e com o forte entusiasmo de Álvaro Parreira que se mantinha como ensaiador, porém estava a precisar do que a Direcção eleita em 1989 demonstrou ser capaz de assegurar: planificação; definição de objectivos; convocatórias regulares das Assembleias de Sócios; elaboração de contas e actas; manutenção e enriquecimento do acervo patrimonial. Passou a fazer-se anualmente um balanço das actividades. Publica-se desde 1991 uma brochura, aquando do Festival de Folclore anual, dando conta do programa. Esta publicação que, no início, poderia parecer feita quase unicamente para angariar fundos, através do apoio da publicidade do comércio local, tem vindo, ao longo destes quase 20 anos de publicação, a definir os propósitos do Grupo que se quer “ao serviço da cultura popular” e “uma referência no panorama folclórico nacional”, dando relevo ao seu historial e actividades anuais. Inclui também um editorial da Direcção e textos da autoria do Presidente da Câmara, do Governador Civil e, por vezes, do Presidente da Região de Turismo do Norte Alentejano e do Presidente da Federação do Folclore Português. Em 2008, o Presidente da Câmara, José Fernando Mata Cáceres resumia assim a essência do Grupo: “a verdadeira prova de vitalidade do Boavista reside na qualidade e no rigor que todos reconhecemos nas suas prestações. No trabalho e persistência dos que o integram, na sua afirmação como verdadeiro embaixador da cultura, da história e das tradições da nossa terra…”(8).

(8) Brochura 2008.


 

 

Dando continuidade às intenções definidas pelo Grupo, para que as nossas “raízes não sejam esquecidas nem se percam no tempo(9)”, passou a editar-se uma Folha Informativa trimestral que “dá conta de aspectos fundamentais da história, da actividade e dos projectos de trabalho do Grupo Folclórico e Cultural da Boavista”(10) e continua-se a recolha de danças e cantares no concelho de Portalegre. Actualmente, o Grupo tem um longo repertório que exibe parcelarmente, de acordo com os sítios onde faz as suas demonstrações. Todo este repertório está organizado e, em parte, descrito e analisado, em dossiers susceptíveis de serem consultados por investigadores e interessados na temática da música tradicional portuguesa, com maior incidência sobre a do Alto Alentejo.

As modas ou tipo de danças e suas variedades dançadas pelo Grupo são: Danças Palacianas (Dois passos de Alegrete; Tacão e Bico; Roda do Meio; Chotice Corrida; Pé Certinho; Picadinha Coxa; Bailarico da Alagoa); Bailes Campaniços ou Bailes de Terreiro (Cavalinhos; Cravo Roxo; Bailarico das Mondas; Laranjinha; Tiroliro; Passadinhas; Oliveira Pequenina); Jogos Bailados (Entrançado; Abracinho; Murtinheira); Bailes de Saias (Rita da Cara Bonita; Viva a Noiva; Vira-te, oh Rosa!); Viras e Danças Viradas (Vira das Palmas; Vira das Hortas; Vira de Quatro; Vira Passado; Vira Rodado; Moreninha Viraste; Pulante); Bailes de Roda (Moda das Carreirinhas; Deixa-te estar; Moda de S. Martinho; Viras tu, viro eu) e as Saias. Estas últimas eram, normalmente, cantadas mas também podem ser só dançadas ou mesmo cantadas e dançadas em simultâneo. As da região do Alto Alentejo são as saias serranas que, por conseguinte, fazem parte do repertório do GFCB: Saias de Alter; Saias da Ti Rosa; Saias Novas; Saias do Reguengo; Saias Rodadas; Saias da Serra e Saias do La-ri-lo-lé. A maior parte da recolha deste repertório deve-se ao labor de João Vidal, embora muito se continue ainda a fazer. Porém, é de realçar o cuidado e o rigor deste dedicado amante da etnografia e auto-didacta que anotava o nome, a idade, o lugar de nascença e de residência de quem lhe transmitia os cantares, de quem lhe dava as marcações das danças ou lhe prestava qualquer outra informação. Note-se também que este entusiasmo nasceu graças à influência de um dos seus professores, Casimiro Mourato, e da sua mãe, exímia cantadeira da região(11).

(9) Brochura 1995.

(10) Folha Informativa, nº2, 2008.

(11) João Vidal (n.1940), quando só tinha disponibilidade para visitar a mãe aos fins-de-semana, Catarina Rosado Tapadinhas (n.1908), passava os dias e a noite a gravar os seus cantares. “Deitavam-se quando deviam estar a levantar-se”, comenta a esposa de João Vidal, Ana Nunes, membro do Rancho de Santo António das Areias, onde enverga uma cópia fiel do fato de casamento da sua sogra.


 

 

Embora a existência e permanência do GFCB seja o resultado da disponibilidade e abnegação de muitas pessoas, umas que vão ficando anónimas, outras que se fazem notar, como é o caso de Eleutério Janeiro, Director desde 1989 até Agosto de 2002 (data da sua morte), nunca é demais realçar o papel de João Vidal, a quem o Grupo prestou homenagem, dedicando-lhe o seu primeiro CD, propositadamente intitulado, Entre Montes e Aldeias.

Também não têm sido descurados os contactos com outros grupos nacionais e estrangeiros, com o propósito de, segundo as próprias palavras da Direcção, “levar o mais longe possível, com o máximo de representatividade e qualidade, os usos, costumes e tradições, danças e cantares da nossa terra(12)”. Por isso, além do Canadá, visitado em 1979, conforme ficou dito, Rússia, Polónia, França, Alemanha, Geórgia, Áustria, Marrocos, Itália, Roménia, Bélgica e Espanha são países que o Grupo já visitou. Toda esta actividade também se inscreve por todo o Portugal continental e ilhas(13), sendo de realçar os Festivais de Folclore que organiza, anualmente, em Portalegre, tanto para adultos, como para infantis . Não menos importante, mas possivelmente, com menos visibilidade, é a participação em colóquios e conferências, a organização de um seminário sobre etnografia, de encontros de poetas populares, de exposições, de demonstrações de trajo ao vivo e de outras actividades que têm por objectivo formar jovens.

A este propósito diga-se que o trabalho, Grupo Folclórico e Cultural da Boavista – Uma instituição Educativa, realizado por alunas da Escola Superior de Educação, em 1995, faz jus à preocupação pedagógica que, desde 1967, orienta este Grupo(14). Abra-se um parêntesis para dizer que, segundo testemunhos dos membros da primeira Direcção, António Gonçalves e Álvaro Parreira, educar, formar e ajudar os mais carenciados eram as grandes preocupações do Rancho. Apoiavam as crianças do Internato de Santo António, organizavam colónias de férias, davam alguns subsídios às famílias pela participação das crianças no rancho, alimentavam-nas nos dias das saídas, enfim, desempenhavam o papel de obra de solidariedade social. Álvaro Parreira, órfão de mãe desde os 8 anos, e educado no internato, confirma que as deslocações eram um incentivo a que o aproveitamento escolar fosse garantido. Também hoje o ensaiador, Manuel Braga, se orienta pelo sucesso na escola, como um dos aspectos que contribui para a selecção de elementos do grupo a deslocações, por exemplo, ao estrangeiro.

É ainda este membro da Direcção que reforça a importância de ensinar o passado, de criar laços de amizade, de saber viver em grupo e de ser solidário, o que está explicito no Plano de Actividades para 2009, no capítulo do Trabalho Interno: promover os valores da amizade e da solidariedade(15). Paralelamente, são também objectivos do Grupo estimular o conhecimento e a aprendizagem para utilização de instrumentos mais antigos, como o harmónio, a concertina, e a harmónica de boca, instrumentos que, somados à ronca, ao adufe e às castanholas, actualmente usados, reforçariam a genuidade do trabalho.

Na realidade, o GFCB tem inscrito nos seus objectivos “Contribuir, através de manifestações de folclore e outras de índole cultural, para a promoção sociocultural dos seus associados e para a valorização da região de São Mamede.”(16) Por isso, já assinou protocolos de colaboração com escolas, nomeadamente, a dos Assentos e a do Atalaião, onde vai ensinar usos e costumes do concelho. Este trabalho resulta de um grande esforço e da boa vontade dos voluntários do Grupo que se preocupam em recrutar mais elementos para os infantis, mantendo em permanência o ensino das balhações. Note-se que alguns jovens, quando atingem o 12º ano, tendem a sair do grupo, como refere o actual Presidente, Joaquim Rebelo, para prosseguirem a sua formação académica, pelo que tem de haver sempre substitutos. Apesar das dificuldades, esta colectividade tem 400 sócios e 115 elementos do rancho, os quais apresentam os trajos característicos da região, todos eles devidamente fotografados, descritos e, sempre que possível, com referência a quem o usou ou a quem o facultou para cópia.

(12) Brochura 1993.

(13) Em 2005, o GFCB deslocou-se à Ilha da Madeira

(14) Carla Nabais, Regina Pedras, Teresa Ribeiro – Grupo Folclórico e Cultural da Boavista – Uma instituição Educativa, Instituto Politécnico de Portalegre, Escola Superior de Educação, Portalegre. Como refere este trabalho, na pg.34, na opinião do então Presidente, Carlos Garcia de Castro, “… as associações de natureza etnográfica (…) terão que assumir também o papel de ensinar e transmitir os valores passados, através da interacção com outras organizações locais, no sentido de elaborar projectos de expansão à comunidade e à sociedade”.

(15) Segundo o relatório de 1991,”das 26 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 14, só uma tem de repetir o ano”.

(16) Relatório de Actividades de 2006.


 

 

Fazem parte do acervo do Grupo 130 trajos, de trabalho e de festa. Os de trabalho identificam-se pelos instrumentos usados e não propriamente pelo fato usado, pois que não havia qualquer uniformização no que diz respeito ao tipo de roupa. Reconhecemos, entre eles, o pastor, o boieiro, o ceifeiro, o gadanheiro, o malhador, o varejador, o lavrador, o semeador, o tirador de cortiça; a ceifeira, a azeitoneira e a mondadeira. Os das ocasiões especiais são o chamado domingueiro de Alegrete; o de casamento de S. Julião; os de festa de Alagoa e Ribeira de Nisa, de Carreira e Fortios e a incomparável Côca de Portalegre.

Actualmente estão a surgir outras actividades, as demonstrações de fainas agrícolas, designadas por “quadros etnográficos”, como ceifas, mondas e desfolhadas, bem como a reconstituição de tradições que se têm perdido, como a Maia e o chocalhar das comadres. Inseridas nestas actividades e na linha da renovação da tradição com o objectivo de a recriar, para a ir sustentando, o Grupo colabora também na matança do porco, em Fevereiro, na matança do borrego, pela Páscoa, e no Magusto, em Novembro.

Outro aspecto que merece referência é o facto da sede estar diariamente aberta, com serviço de café e petiscos, o que permite que sócios e amigos se encontrem com frequência, mantendo o espaço vivo.

O Grupo Folclórico e Cultural da Boavista transformou, desde os anos 70, esta pequena casa situada na Rua Poeta José Régio, nº 2, num repositório de estórias, de valiosa documentação, de um considerável espólio de trajos e instrumentos musicais, tudo isto temperado com uma não menos valiosa dose de afecto, empreendorismo, boa vontade e disponibilidade.

 

 

 

 

GRUPO FOLCLÓRICO E CULTURAL DA BOAVISTA

 

Os pequenitos que participaram na marcha popular do Bairro da Boavista, nunca imaginaram que iriam estar na origem de uma das mais activas associações da cidade de Portalegre. Também não supuseram que estavam a criar os primeiros rebentos que viriam a transformar-se, dias depois, no Rancho Típico Regional da Boavista.

 

Era o ano de 1967. O Bairro da Boavista havia sido inaugurado em 1965. Por iniciativa de três amigos e dinâmicos moradores, o bairro deu-se a conhecer durante as festas dos santos populares, organizando a sua primeira marcha. (FOTO da marcha – única existente) Estaria na origem desta iniciativa arranjar fundos para as obras da capela de Santana. Os três eram membros da Confraria do mesmo nome.

Não esperavam eles, Carlos Fabião Vintém (seria bom arranjar uma foto do Sr Carlos Fabião, dado que temos a 1ª direcção representada à excepção dele), António Rodrigues e Álvaro Parreira, que lhes caísse em cima a responsabilidade de manterem vivo o entusiasmo das crianças que nela haviam participado, bem como o das mães e pais que viram na dança e nos cantares uma oportunidade para darem aos filhos formação e ocupação. A insistência foi muita e, apesar de os organizadores tentarem fazer compreender que não tinham meios nem conhecimentos para lhe darem continuidade, o resultado não lhes foi muito favorável.

Porém, para criar um rancho havia quase nada. Não havia nem trajos, nem sede, nem ensaiador, nem instrumentos, nem reportório. Havia vontade, muita insistência e crianças, sobretudo meninas, cujos nomes ainda são recordados, perante a única fotografia que testemunha a marcha de 1967 – o Tó Zé, a Mena, a Lena, as filhas da Virgínia, a filha do Fabião, entre outros. (FOTO da Marcha)Era este o núcleo que viria a dar ao bairro o Rancho Típico e Regional que, por força do empenhamento, nasceu um mês depois da marcha ter saído à rua.

Vimo-nos envolvidos num processo da mais alta responsabilidade” diz, 43 anos depois, Álvaro Parreira(FOTO/entrevista).

Se não havia ensaiador, nem quem percebesse de dança, nem recolha de cantares, a primeira urgência era encontrar alguém que suplantasse estas dificuldades.

Era sabido que um funcionário bancário, natural de Santo António das Areias, de nome João Nunes Vidal, era um apaixonado por folclore (FOTO do Sr. Vidal ou Entrevista?). Um verdadeiro apaixonado! Este termo tem de ser reforçado, como o reforçam sempre as pessoas que dele falam. Um apaixonado que passava todos os seus tempos livres de gravador na mão, calcorreando a serra, com a crença de que o que fazia era essencial para que os saberes dos trabalhadores da região não se perdessem.”Foi o primeiro gravador que apareceu na região. Muitas vezes tinha de o esconder para as pessoas não se assustarem”, afirma João Vidal, hoje já arredado das lides do folclore, por razões de saúde, o que não lhe retira o “brilhozinho nos olhos” com que fala dessa altura.

Parece não ter sido difícil trazê-lo de imediato para dar continuidade ao entusiasmo nascente do êxito da apresentação da marcha no desfile da cidade. Graças ao seu saber e à sua experiência, a 29 de Julho (Cartaz/anúncio), o Boavista apresentava-se no salão de festas do seminário, com um reportório de uma dezena de balhações (FOTOS da primeira actuação, incluindo aquela onde está João Vidal). E logo a 31 do mesmo mês, a Direcção formada por Presidente, Secretário e Tesoureiro, respectivamente, Carlos Fabião Vintém, António Lagarto Gonçalves e Álvaro Curinha Parreira, os autores da ideia da marcha, dá início ao livro de contas que abre nestes termos: “Serve este livro para nele serem escrituradas as receitas e despesas do Rancho Típico Regional da Boavista”. Como receita do referido espectáculo anotaram 3.799$00 acrescida de uma oferta do ensaiador João Vidal no valor de 322$50. Nesse ano terminaram a sua acção com um saldo positivo de 38.606$00.

Havia, pois, ensaiador, balhadores e algum dinheiro, mas os fatos utilizados tinham sido emprestados pela Junta de Freguesia de Urra e, rancho sem trajo não pode dançar, tal como “rouxinol sem asas não pode voar”. Ultrapassar este problema foi a primeira preocupação. De facto, analisando as primeiras despesas, depreende-se desta necessidade. Compraram-se tecidos, pagou-se a costureiras e sapateiros, fez-se uma bandeira (FOTO), adquiriram-se tarros, foices e contrataram-se tocadores de acordeão, viola, banjo, clarinete, ferrinhos e castanholas. Segundo testemunho do tesoureiro, a fábrica de lanifícios de Portalegre ofereceu alguns tecidos, as lojas locais facilitaram o pagamento e o pai de António Gonçalves, ele próprio sapateiro, deu uma ajuda grande. A casa do Álvaro Parreira era a oficina, o ponto de apoio às costuras, às provas e ao trajo, conforme assegura o então secretário e funcionário da Câmara Municipal de Portalegre, António Gonçalves. Além de alfaiate, António Parreira era casado com Cesaltina, costureira, de profissão. Era meio caminho andado. Mães e crianças faziam um incessante corrupio lá para casa, ajudando em tudo o que era necessário.

Entretanto, o rancho actuava em localidades vizinhas e em Lisboa, como por exemplo, na Casa do Alentejo (FOTO notícias Jornal), e em Portalegre, com frequência. Teve na Câmara Municipal e no Governo Civil os seus principais apoiantes financeiros e no ensaiador o seu principal motor. “Era como um carro à manivela. O Sr. João Vidal não parava de dar à manivela e o carro não parava. E nós tínhamos de andar também”, confirma António Gonçalves.

Porém, 15 meses depois, o ensaiador afasta-se, segundo o seu próprio testemunho, devido a exigências profissionais. Mas, diga-se em nota de grande importância para a história desta associação, deixando um considerável acervo de recolhas, de melodias e de recomendações sobre os trajos. É baseado nestes ensinamentos que, em 1968, António Lagarto Gonçalves elabora um documento onde refere que os trajos “obedecem em todo o pormenor e com todo o rigor ao que se usava em épocas passadas, na cidade e na região” e assegura que as danças e cantares foram recolhidas junto de pessoas idosas da cidade e das suas freguesias rurais, sendo todo o reportório baseado em elementos dignos do maior crédito. Também os músicos vestiam já com “todo o rigor, trajos de festa e trajos de trabalho da região”. O clarinete usado, anotava ele, era para “evocar as antigas gaitas de pau”, já na altura difíceis de encontrar. Verificamos, portanto, que João Vidal deixou um espólio incalculável ao Rancho que ajudou a formar – recolhas, orientações e ensinamentos.

O desfalque causado pela sua inesperada saída é remediado por Álvaro Parreira que, segundo as suas próprias palavras, pede colaboração à “melhor bailarina, à Lena”, que lhe indica as marcações das danças e contribui para que ele assuma durante mais de 20 anos as funções de ensaiador. Tinha o apoio dos seus colegas, tinha os apoios financeiros das entidades locais, tinha 8 pares de adultos, o mesmo número de juvenis e 6 de infantis e muita vontade em levar para a frente o rancho, não só por questões sociais, mas também, como afirma, pela vaidade incentivada pelo êxito que o Grupo conseguia atingir em todas as participações. Faltavam-lhe ensinamentos e experiência, mas o rancho fazia-se notar em todos os festivais onde participava, ganhando prémios e arrancando louvores (Recortes de jornais da época). Do Secretariado Nacional de Informação, emanavam directrizes que diferiam do rumo que o rancho hoje prossegue e que fazem dele o Digno representante das tradições cantadas e bailadas pelo povo e Digno Mensageiro do Folclore Alto Alentejano, como é referido, já em 1987 . Talvez por isso, o período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 abalou o seu funcionamento, reduzindo sobretudo o número de actuações sem, contudo, o paralisar. As Direcções iam-se sucedendo, com a duração de 4 anos, mantendo-se Álvaro Parreira, como ensaiador e forte dinamizador do Grupo. Em 1979 foi escolhido pela Direcção Geral dos Assuntos Políticos e Culturais para representar Portugal na Feira-Exposição “Terres des Hommes”, em Montreal (Canadá), onde permaneceu 59 dias, durante os quais fez 200 demonstrações (FOTOS). Antes, sob proposta de Tomaz Ribas, o Grupo passa a ser designado por Grupo Folclórico e Cultural da Boavista (GFCB), o que, como refere Manuel Braga, membro da Direcção desde 1989, não é do seu agrado, nem da actual Direcção, preferindo Rancho Típico Regional da Boavista, precisamente porque o Grupo pretende ser o mensageiro da tipicidade do Alto Alentejo, especialmente, do Distrito de Portalegre.

Certamente que as ideias emergentes da revolução de Abril muito contribuíram para que as práticas deste Grupo se fossem alterando, nomeadamente a estreita relação com o poder autárquico e os princípios de rigor pedagógico que orientavam os directores. Ouvindo os de outrora e os actuais apercebemo-nos claramente das mudanças que o tempo provocou, por exemplo, no que diz respeito à relação entre jovens. Deixou de haver uma separação total entre rapazes e raparigas, como acontecia nas saídas que se efectuavam de camioneta onde, à frente, seguiam as meninas e atrás os rapazes, separados por uma ou duas fileiras de mães.

Quase até finais dos anos 80, a actividade do Grupo prosseguiu, bastante apoiada por Tomaz Ribas e com o forte entusiasmo de Álvaro Parreira que se mantinha como ensaiador, porém estava a precisar do que a Direcção eleita em 1989 demonstrou ser capaz de assegurar: planificação; definição de objectivos; convocatórias regulares das Assembleias de Sócios; elaboração de contas e actas; manutenção e enriquecimento do acervo patrimonial. Passou a fazer-se anualmente um balanço das actividades (FOTO exemplificativa de um relatório de actividades). Publica-se desde 1991 uma brochura (FOTO exemplificativas de brochuras, por exemplo a dos 25 anos, a dos 40 e a de 2008), aquando do Festival de Folclore anual, dando conta do programa. Esta publicação que, no início, poderia parecer feita quase unicamente para angariar fundos, através do apoio da publicidade do comércio local, tem vindo, ao longo destes quase 20 anos de publicação, a definir os propósitos do Grupo que se quer “ao serviço da cultura popular” e “uma referência no panorama folclórico nacional”, dando relevo ao seu historial e actividades anuais. Inclui também um editorial da Direcção e textos da autoria do Presidente da Câmara, do Governador Civil e, por vezes, do Presidente da Região de Turismo do Norte Alentejano e do Presidente da Federação do Folclore Português.Em 2008, o Presidente da Câmara, António Fernando Mata Cáceres resumia assim a essência do Grupo: a verdadeira prova de vitalidade do Boavista reside na qualidade e no rigor que todos reconhecemos nas suas prestações. No trabalho e persistência dos que o integram, na sua afirmação como verdadeiro embaixador da cultura, da história e das tradições da nossa terra….

Dando continuidade às intenções definidas pelo Grupo, para que as nossas “raízes não sejam esquecidas nem se percam no tempo”, passou a editar-se uma Folha Informativa trimestral (FOTO) que “dá conta de aspectos fundamentais da história, da actividade e dos projectos de trabalho do Grupo Folclórico e Cultural da Boavista” e continua-se a recolha de danças e cantares no concelho de Portalegre (Mapa com as freguesias e os locais onde se têm feito recolhas: Alagoa, Alegrete, Carreiras, Fortios, Reguengo; Ribeira de Nisa, São Julião, Urra e Portalegre?).

Actualmente, o Grupo tem um longo reportório que exibe parcelarmente, de acordo com os sítios onde faz as suas demonstrações. Todo este reportório está organizado e, em parte, descrito e analisado, em dossiers susceptíveis de serem consultados por investigadores e interessados na temática da música tradicional portuguesa, com maior incidência sobre a do Alto Alentejo. As modas ou tipo de danças e suas variedades dançadas pelo Grupo são: Danças Palacianas (Dois passos de Alegrete; Tacão e Bico; Roda do Meio; Chotice Corrida; Pé Certinho; Picadinha Coxa; Bailarico da Alagoa); Bailes Campaniços ou Bailes de Terreiro (Cavalinhos; Cravo Roxo; Bailarico das Mondas; Laranjinha; Tiroliro; Passadinhas; Oliveira Pequenina); Jogos Bailados (Entrançado; Abracinho; Martunheira); Bailes de Saias (Rita da Cara Bonita; Viva a Noiva; Vira-te, oh! Rosa!); Viras e Danças Viradas(Vira das Palmas; Vira das Hortas; Vira de Quatro; Vira Passado; Vira Rodado; Moreninha Viraste; Pulante); Bailes de Roda (Moda das Carreirinhas; Deixa-te estar; Moda de S. Martinho; Viras tu, viro eu) e as Saias (ilustrar com fotos?). Estas últimas eram, normalmente, cantadas mas também podem ser só dançadas ou mesmo cantadas e dançadas em simultâneo. As da região do Alto Alentejo são as saias serranas que, por conseguinte, fazem parte do reportório do GFCB: Saias de Alter; Saias da Ti Rosa; Saias Novas; Saias do Reguengo; Saias Rodadas; Saias da Serra e Saias do La-ri-lo-lé. A maior parte da recolha deste reportório deve-se ao labor de João Vidal, embora muito se continue ainda a fazer. Porém, é de realçar o cuidado e o rigor deste dedicado amante da etnografia e auto-didacta que anotava o nome, a idade, o lugar de nascença e de residência de quem lhe transmitia os cantares, de quem lhe dava as marcações das danças ou lhe prestava qualquer outra informação. Note-se também que este entusiasmo nasceu graças à influência de um dos seus professores, Casimiro Mourato, e da sua mãe, exímia cantadeira da região.

Embora a existência e permanência do GFCB seja o resultado da disponibilidade e abnegação de muitas pessoas, umas que vão ficando anónimas, outras que se fazem notar, como é o caso de Eleutério Janeiro, Director desde 1993 até 2001 (data da sua morte), nunca é demais realçar o papel de João Vidal, a quem o Grupo prestou homenagem, dedicando-lhe o seu primeiro CD (FOTO), propositadamente intitulado, Entre Montes e Aldeias.

Também não têm sido descurados os contactos com outros grupos nacionais e estrangeiros, com o propósito de, segundo as próprias palavras da Direcção, “levar o mais longe possível, com o máximo de representatividade e qualidade, os usos, costumes e tradições, danças e cantares da nossa terra”. Por isso, além do Canadá, visitado em 1979, conforme ficou dito, Rússia, Polónia, França, Alemanha, Espanha, Áustria, Marrocos, Itália, Roménia, Bélgica e Espanha são países que o Grupo já visitou (FOTOS VÁRIAS). Toda esta actividade também se inscreve por todo o Portugal continental e ilhas, sendo de realçar os Festivais de Folclore que organiza, anualmente, em Portalegre, tanto para adultos, como para infantis (EXIBIR DOCUMENTAÇÃO). Não menos importante, mas possivelmente, com menos visibilidade, é a participação em colóquios e conferências, a organização de um seminário sobre etnografia, de encontros de poetas populares (Penso que há um desdobrável publicitário), de exposições, de demonstrações de trajo ao vivo e de outras actividades que têm por objectivo formar jovens.

A este propósito diga-se que o trabalho, Grupo Folclórico e Cultural da Boavista – Uma instituição Educativa, realizado por alunas da Escola Superior de Educação, em 1995, faz jus à preocupação pedagógica que, desde 1967, orienta este Grupo. Abra-se um parêntesis para dizer que, segundo testemunhos dos membros da primeira Direcção, António Gonçalves e Álvaro Parreira, educar, formar e ajudar os mais carenciados eram as grandes preocupações do Rancho. Apoiavam as crianças do Internato de Santo António, situado na Boavista, organizavam colónias de férias, davam alguns subsídios às famílias pela participação das crianças no rancho, alimentavam-nas nos dias das saídas, enfim, desempenhavam o papel de obra de solidariedade social. Álvaro Parreira, órfão de mãe desde os 8 anos, e educado no internato, confirma que as deslocações eram um incentivo a que o aproveitamento escolar fosse garantido. Também hoje o ensaiador, Manuel Braga, se orienta pelo sucesso na escola, como um dos aspectos que contribui para a selecção de elementos do grupo a deslocações, por exemplo, ao estrangeiro.

É ainda este membro da Direcção que reforça a importância de ensinar o passado, de criar laços de amizade, de saber viver em grupo e de ser solidário, o que está explicito no Plano de Actividades para 2009, no capítulo do Trabalho Interno: promover os valores da amizade e da solidariedade. Paralelamente, são também objectivos do Grupo estimular o conhecimento e a aprendizagem para utilização de instrumentos mais antigos, como o harmónio, a concertina, e a harmónica de boca, instrumentos que, somados à ronca, ao adufe e às castanholas, são os actualmente usados.(FOTOS)

Na realidade, o GFCB tem inscrito nos seus objectivos “Contribuir, através de manifestações de folclore e outras de índole cultural, para a promoção sociocultural dos seus associados e para a valorização da região de São Mamede.” Por isso, já assinou protocolos de colaboração com escolas, nomeadamente, a dos Assentos e a do Atalaião, onde vai ensinar usos e costumes do concelho. Este trabalho resulta de um grande esforço e da boa vontade dos voluntários do Grupo que se preocupam em recrutar mais elementos para os infantis, mantendo em permanência o ensino das balhações. Note-se que alguns jovens, quando atingem o 12º ano, tendem a sair do grupo, como refere o actual Presidente, Joaquim Rebelo, para prosseguirem a sua formação académica, pelo que tem de haver sempre substitutos. Apesar das dificuldades, esta colectividade tem 400 sócios e 115 elementos do rancho, os quais apresentam os trajos característicos da região, todos eles devidamente fotografados, descritos e, sempre que possível, com referência a quem o usou ou a quem o facultou para cópia.

Fazem parte do acervo do Grupo 130 trajos, distribuídos pelas seguintes profissões: Pastor, boieiro, malhador, ceifeiro, gadanheiro, malhador, varejador, lavrador, semeador, tirador de cortiça; ceifeira, azeitoneira, mondadeira e ainda os trajes de ocasiões especiais: domingueiro de Alegrete; de casamento de S. Julião; de festa de Alagoa e Ribeira de Nisa, Carreira e Fortios e a incomparável Côca de Portalegre. (FOTOS)

Actualmente estão a surgir outras actividades, as demonstrações de fainas agrícolas, designadas por “quadros etnográficos”, como ceifas, mondas e desfolhadas, bem como a reconstituição de tradições que se têm perdido, como a Maia e o chocalhar das comadres. Inseridas nestas actividades e na linha da renovação da tradição com o objectivo de a recriar, para a ir sustentando, o Grupo colabora também na matança do porco, em Fevereiro (FOTOS), na matança do borrego, pela Páscoa, e no Magusto, em Novembro.

Outro aspecto que merece referência é o facto da sede (FOTO da sede) estar diariamente aberta, com serviço de café e petiscos, o que permite que sócios e amigos se encontrem com frequência, mantendo o espaço vivo.

O Grupo Folclórico e Cultural da Boavista transformou, desde os anos 70, esta pequena casa situada na Rua Poeta José Régio, nº 2, num repositório de estórias, de valiosa documentação, de um considerável espólio de trajos (FOTOS) e instrumentos musicais, tudo isto temperado com uma não menos valiosa dose de afecto, empreendorismo, boa vontade e disponibilidade.

 

 

 

 

No Rancho, para completar os pares, vários rapazes foram recrutados no Internato de Santo António.

Balhador e balhadeira são os termos usados localmente para designar o homem ou a mulher que dançam num balho, quer dizer numa dança de cariz popular. João Vidal, primeiro ensaiador do Grupo, hoje com 70 anos, garante que, dizer-se antigamente que fulano ou sicrano bailava, tinha um sentido depreciativo. Havia que dizer balhava, neste caso.

Esta bandeira, ainda existente, mas já não usada pelo GFCB, por não corresponder aos objectivos actuais do Grupo, foi desenhada por João Vidal e bordada pela costureira Maria Emília Serra, conhecida por trabalhar para a casa José Elias.

A quem, no 40º aniversário do Grupo, Henrique Salsinha, ex-presidente, presta homenagem. Cf. Brochura de 2007, pg.22

A RABECA, jornal local, faz eco deste sucesso.

Desdobrável publicado pelo Grupo Folclórico e Cultural da Boavista.

Foram os seguintes, os Presidentes do Grupo: Carlos Fabião Vintém; José Baptista Mourato Ceia; Joaquim Grave Caldeira; Martinho Dias; Henrique Salsinha; Carlos Garcia de Castro; Eleutério Janeiro (foi a morte súbita e precoce que não lhe permitiu terminar o seu mandato) e, actualmente, Joaquim Rebelo.

Brochura 2008.

Brochura 1995.

Folha Informativa, nº2, 2008.

João Vidal (n.1940), quando só tinha disponibilidade para visitar a mãe aos fins-de-semana, Catarina Rosado Tapadinhas (FOTO)(n.1908), passava os dias e a noite a gravar os seus cantares. “Deitavam-se quando deviam estar a levantar-se”, comenta a esposa de João Vidal, Ana Nunes, (FOTO da ESPOSA), membro do Rancho de Santo António das Areias, onde enverga uma cópia fiel do fato de casamento da sua sogra (FOTO).

Brochura 1993.

Em 2005, o GFCB deslocou-se à Ilha da Madeira.

Carla Nabais, Regina Pedras, Teresa Ribeiro – Grupo Folclórico e Cultural da Boavista – Uma instituição Educativa, Instituto Politécnico de Portalegre, Escola Superior de Educação, Portalegre. Como refere este trabalho, na pg. 34, na opinião do então Presidente, Carlos Garcia de Castro, “… as associações de natureza etnográfica (…) terão que assumir também o papel de ensinar e transmitir os valores passados, através da interacção com outras organizações locais, no sentido de elaborar projectos de expansão à comunidade e à sociedade”.

Segundo o relatório de 1991,”das 26 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 14, só uma tem de repetir o ano”.

Relatório de Actividades de 2006.