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Embora a existência e permanência do GFCB seja o resultado da disponibilidade e abnegação de muitas pessoas, umas que vão ficando anónimas, outras que se fazem notar, como é o caso de Eleutério Janeiro, Director desde 1989 até Agosto de 2002 (data da sua morte), nunca é demais realçar o papel de João Vidal, a quem o Grupo prestou homenagem, dedicando-lhe o seu primeiro CD, propositadamente intitulado, Entre Montes e Aldeias.

Também não têm sido descurados os contactos com outros grupos nacionais e estrangeiros, com o propósito de, segundo as próprias palavras da Direcção, “levar o mais longe possível, com o máximo de representatividade e qualidade, os usos, costumes e tradições, danças e cantares da nossa terra(12)”. Por isso, além do Canadá, visitado em 1979, conforme ficou dito, Rússia, Polónia, França, Alemanha, Geórgia, Áustria, Marrocos, Itália, Roménia, Bélgica e Espanha são países que o Grupo já visitou. Toda esta actividade também se inscreve por todo o Portugal continental e ilhas(13), sendo de realçar os Festivais de Folclore que organiza, anualmente, em Portalegre, tanto para adultos, como para infantis . Não menos importante, mas possivelmente, com menos visibilidade, é a participação em colóquios e conferências, a organização de um seminário sobre etnografia, de encontros de poetas populares, de exposições, de demonstrações de trajo ao vivo e de outras actividades que têm por objectivo formar jovens.

A este propósito diga-se que o trabalho, Grupo Folclórico e Cultural da Boavista – Uma instituição Educativa, realizado por alunas da Escola Superior de Educação, em 1995, faz jus à preocupação pedagógica que, desde 1967, orienta este Grupo(14). Abra-se um parêntesis para dizer que, segundo testemunhos dos membros da primeira Direcção, António Gonçalves e Álvaro Parreira, educar, formar e ajudar os mais carenciados eram as grandes preocupações do Rancho. Apoiavam as crianças do Internato de Santo António, organizavam colónias de férias, davam alguns subsídios às famílias pela participação das crianças no rancho, alimentavam-nas nos dias das saídas, enfim, desempenhavam o papel de obra de solidariedade social. Álvaro Parreira, órfão de mãe desde os 8 anos, e educado no internato, confirma que as deslocações eram um incentivo a que o aproveitamento escolar fosse garantido. Também hoje o ensaiador, Manuel Braga, se orienta pelo sucesso na escola, como um dos aspectos que contribui para a selecção de elementos do grupo a deslocações, por exemplo, ao estrangeiro.

É ainda este membro da Direcção que reforça a importância de ensinar o passado, de criar laços de amizade, de saber viver em grupo e de ser solidário, o que está explicito no Plano de Actividades para 2009, no capítulo do Trabalho Interno: promover os valores da amizade e da solidariedade(15). Paralelamente, são também objectivos do Grupo estimular o conhecimento e a aprendizagem para utilização de instrumentos mais antigos, como o harmónio, a concertina, e a harmónica de boca, instrumentos que, somados à ronca, ao adufe e às castanholas, actualmente usados, reforçariam a genuidade do trabalho.

Na realidade, o GFCB tem inscrito nos seus objectivos “Contribuir, através de manifestações de folclore e outras de índole cultural, para a promoção sociocultural dos seus associados e para a valorização da região de São Mamede.”(16) Por isso, já assinou protocolos de colaboração com escolas, nomeadamente, a dos Assentos e a do Atalaião, onde vai ensinar usos e costumes do concelho. Este trabalho resulta de um grande esforço e da boa vontade dos voluntários do Grupo que se preocupam em recrutar mais elementos para os infantis, mantendo em permanência o ensino das balhações. Note-se que alguns jovens, quando atingem o 12º ano, tendem a sair do grupo, como refere o actual Presidente, Joaquim Rebelo, para prosseguirem a sua formação académica, pelo que tem de haver sempre substitutos. Apesar das dificuldades, esta colectividade tem 400 sócios e 115 elementos do rancho, os quais apresentam os trajos característicos da região, todos eles devidamente fotografados, descritos e, sempre que possível, com referência a quem o usou ou a quem o facultou para cópia.

(12) Brochura 1993.

(13) Em 2005, o GFCB deslocou-se à Ilha da Madeira

(14) Carla Nabais, Regina Pedras, Teresa Ribeiro – Grupo Folclórico e Cultural da Boavista – Uma instituição Educativa, Instituto Politécnico de Portalegre, Escola Superior de Educação, Portalegre. Como refere este trabalho, na pg.34, na opinião do então Presidente, Carlos Garcia de Castro, “… as associações de natureza etnográfica (…) terão que assumir também o papel de ensinar e transmitir os valores passados, através da interacção com outras organizações locais, no sentido de elaborar projectos de expansão à comunidade e à sociedade”.

(15) Segundo o relatório de 1991,”das 26 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 14, só uma tem de repetir o ano”.

(16) Relatório de Actividades de 2006.