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O rancho actuava em localidades vizinhas e em Lisboa, como por exemplo, na Casa do Alentejo, e em Portalegre, com frequência. Teve na Câmara Municipal e no Governo Civil os seus principais apoiantes financeiros e no ensaiador o seu principal motor. “Era como um carro à manivela. O Sr. João Vidal não parava de dar à manivela e o carro não parava. E nós tínhamos de andar também”, confirma António Gonçalves.

Porém, 15 meses depois, o ensaiador afasta-se, segundo o seu próprio testemunho, devido a exigências profissionais. Mas, diga-se em nota de grande importância para a história desta associação, deixando um considerável acervo de recolhas, de melodias e de recomendações sobre os trajos. É baseado nestes ensinamentos que, em 1968, António Lagarto Gonçalves elabora um documentoonde refere que os trajos “obedecem em todo o pormenor e com todo o rigor ao que se usava em épocas passadas, na cidade e na região” e assegura que as danças e cantares foram recolhidas junto de pessoas idosas da cidade e das suas freguesias rurais, sendo todo o repertório baseado em elementos dignos do maior crédito. Também os músicos vestiam já com “todo o rigor, trajos de festa e trajos de trabalho da região” . O clarinete usado, anotava ele, era para “evocar as antigas gaitas de pau”, já na altura difíceis de encontrar. Verificamos, portanto, que João Vidal deixou um espólio incalculável ao Rancho que ajudou a formar – recolhas, orientações e ensinamentos.

O desfalque causado pela sua inesperada saída é remediado por Álvaro Parreira que, segundo as suas próprias palavras, pede colaboração à “melhor bailarina, à Lena”, que lhe indica as marcações das danças e contribui para que ele assuma durante mais de 20 anos as funções de ensaiador. Tinha o apoio dos seus colegas, tinha os apoios financeiros das entidades locais, tinha 8 pares de adultos, o mesmo número de juvenis e 6 de infantis e muita vontade em levar para a frente o rancho, não só por questões sociais, mas também, como afirma, pela vaidade incentivada pelo êxito que o Grupo conseguia atingir em todas as participações. Faltavam-lhe ensinamentos e experiência, mas o rancho fazia-se notar em todos os festivais onde participava, ganhando prémios e arrancando louvores(5). Do Secretariado Nacional de Informação, emanavam directrizes que diferiam do rumo que o rancho hoje prossegue e que fazem dele o Digno representante das tradições cantadas e bailadas pelo povo e Digno Mensageiro do Folclore Alto Alentejano, como é referido, já em 1987(6).Talvez por isso, o período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 abalou o seu funcionamento, reduzindo sobretudo o número de actuações sem, contudo, o paralisar. As Direcções iam-se sucedendo, com a duração de 4 anos, mantendo-se Álvaro Parreira, como ensaiador e forte dinamizador do Grupo(7).

(5) A RABECA, jornal local, faz eco deste sucesso.

(6) Desdobrável publicado pelo Grupo Folclórico e Cultural da Boavista.

(7) Foram os seguintes, os Presidentes do Grupo: Carlos Fabião Vintém; José Baptista Mourato Ceia; Joaquim Grave Caldeira; Martinho Dias; Henrique Salsinha; Carlos Garcia de Castro; Eleutério Janeiro (foi a morte súbita e precoce que não lhe permitiu terminar o seu mandato) e, actualmente, Joaquim Rebelo.