nome: |
António Caeiro |
ano nascimento: |
30/12/1933 |
freguesia: | Vila Ruiva |
concelho: |
Cuba |
distrito: |
Beja |
data de recolha: | Fevereiro 2006 |
Cuba “Entrevista” - Como aprendeu a contar histórias, recordações do pai. António Caeiro; Vila Ruiva; Concelho de Cuba. Registo 2006. Entrevista Entrevista a António Caeiro [António Caeiro:] – Sabe como é que o meu pai costumava dizer com o acabar da história? È assim um bocado rasca, mas…depois dizia assim: “bendito, louvado quem não cuspiu no chão …com o cu cagado” [Entrevistador:] – (…) Então o seu pai terminava as histórias todas assim? [António Caeiro:] – Quando continuava era sempre assim: “bendito, louvado quem não cuspiu no chão …com o cu cágado” [Entrevistador:] – Qualquer história que fosse, de rir ou mesmo sem ser de rir? [António Caeiro:] – Era, era sempre assim. O meu pai era uma pessoa analfabeta, mas era uma pessoa…eu ainda hoje fico pensativo, como é que era possível uma pessoa ser analfabeta e ter tantas histórias tão lindas (eu não sei nem um terço, nem uma quarta parte). E contava sempre da mesma maneira, você via hoje o meu pai, se ele amanhã viesse contar, não falhava (…), contava igualzinho. E então eu aprendi a contar as histórias com o meu pai. O meu pai contava-me a mim, mais tarde eu contei ao meu filho e já contei aos meus netos. [Entrevistador:] – Vai passando, não é? [António Caeiro:] – E a minha neta depois começou a contar lá na biblioteca, assim é que me levaram lá á biblioteca [de Beja]. Ela dizia assim: “avô tens que ir à biblioteca, avô tens que ir à biblioteca…” [Entrevistador:] – …A sua neta como é que se chama? [António Caeiro:] – É a Rute. Já está agora com 16 anos. Então as histórias que eu aprendi não são histórias dessas dos livros, são histórias que o meu pai contava. Imagine só, depois de um dia de trabalho, de sol a sol, um trabalho duro, com uma alimentação deficiente como era nesse tempo, né? Ainda vinha para casa, chegava a casa (sempre) nunca antes das nove, dez horas da noite, nã havia televisão, nã havia rádio, nã havia nada, então nós, depois de cear (como se dizia aqui no Alentejo, não era jantar, era cear). Nós acabávamos de cear e os vizinhos assentavam-se ao pé do lume e o meu pai…”pai conte lá uma história”, e o meu pai contava, tinha a paciência de contar uma história. Contava a do “João Soldado”, ao contava a da “Torre da má hora” que é muito longa, ou contava a do “Zé Pequeno” (…) ‘Ópois é, ele falava muito alto, né, a contar histórias, contava, ele vivia aquilo, contava aquilo (…) Ele, como já lhe disse, ele não era religioso, nem eu, então, quando contava histórias assim sobre santos ele pregava gritos…(…) Aquilo que a gente hoje vê na televisão, o meu pai contava, os animais todos falavam. Aquilo que a gente hoje vê na televisão, os animais todos a falar, os animais todos falavam, sim contava algumas histórias, não me recordo já assim de histórias… mas ele contava muitas histórias em que os animais falavam todos, o lobo falava, a raposa falava…. António Caeiro, 73 anos, Vila Ruiva (conc. Cuba), Fevereiro 2006. Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Cuba e de Beja. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.
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