nome: |
Francisco Galamba |
ano nascimento: |
1922 |
freguesia: | Vila Verde de Ficalho |
concelho: |
Serpa |
distrito: |
Beja |
data de recolha: | 2006 |
- Enganar a Morte
- Três histórias
- Uma flor que abriu em Maio
- Rosicler
- Animais do Guadiana
- As três moças
- Esta noite (cante)
- Jantar de feijão
- Ofício para o filho
- Príncipe Pele-de-Burro
- Rego acima
- Nª S.ª das Pazes
- Tenho corrido 1000 terras
- Na noite de S. João
- O cão, a vaca e o burro
- Francisco G. - Entrevista
Serpa “Entrevista”- Sobre a infância, quem lhe ensinou a contar histórias, a escola e o trabalho. Francisco Galamba; Vila Verde de Ficalho; Ano de nascimento: 1922; Concelho de Serpa. Registo 2006. Entrevista [Entrevistador:] – Nasceu aqui em Ficalho e viveu a vida toda aqui em Ficalho? [Francisco Galamba:] – Sempre aqui em Ficalho… [Entrevistador:] – Nunca sentiu assim um apelo de abalar caminho a Espanha? [Francisco Galamba:] – Não… [Entrevistador:] – Aqui não há muita emigração? Há também? [Francisco Galamba:] – Fui ai à Espanha trabalhar, mas era só a ceifa. Era só o tempo da ceifa e depois voltava. [Entrevistador:] – E tão e ‘tava-me a dizer ali dentro que o seu grande contador de histórias era o seu avô… [Francisco Galamba:] – Era o meu avô. [Entrevistador:] – Como é que se chamava ele? [Francisco Galamba:] – António Rodrigues Lagarto. [Entrevistador:] – Também homem do campo? Trabalhador rural. [Francisco Galamba:] – Era do campo. Sempre, sempre e fazia versos. [Versos] que ele fez à minha avó (que eles davam-se muito bem). Um dia, ele fez-lhe um versozinho assim: (Esta minha Marelei…é falta de educação, assim é que é,. “É falta de Educação esta minha Marelei, isto mais das vezes é, de na’ beber o café. Se não for eu ser quem é, já me teria batido que eu já lhe tenho ofendido. Ganhado apertões de goelas, já tinha arrotado a elas, se tivesse outro marido.» E eu e eu fiz um aqui à minha mulher, aí nessa mesa. 'Távamos assim a… comendo, mas ela fez aqui um jantar de feijão. Um dia comemos, ó'pois no outro dia… Ao fim dos três dias, vamos almoçar o feijão…Eu digo assim: – Olha… Eu disse assim: Sabes que eu gosto de ti, tu pra mim na’ cais no chão, dás o almoço já há três dias feijão. Mas já tenho as contas feitas, não as deixo ir abaixo, sei que o resto da semana que o almoço é um gaspacho(1). A‘ pois diz ela: Deixa-te estar caladinho, na’ respondas outra vez. Não é só essa semana é assim já todo o mês! Depois disse-lhe eu: As minhas contas ‘tão certas! Para mim não há engano. Se isto fosse só um mês, mas é assim já todo o ano!» [Entrevistador:] – E ela não se zanga quando lhe faz essas quadras, não? (…) Então como é que era esse tempo do contar as histórias? [Francisco Galamba:] – Era um monte que há além, chamam-lhe o “Alto da Ferradura”, o meu avô ‘teve lá 28 anos e eu era “piquenino”, ia para além com ele e ele contava-me os contos e eu aprendia tudo. (…) [Entrevistador:] – O Sr. Francisco conta histórias… [Francisco Galamba:] – Aos meus netos pouco, … os meus netos, já vê, a vida é outra. Contei algumas, mas poucas. Porque a gente naquele tempo não havia escola e agora vão para a escola já “piquininos”, pois. [Entrevistador:] – O senhor chegou a ir à escola, Sr. Francisco? [Francisco Galamba:] – Eu poucochinha tive. [Entrevistador:] – Mas porquê, tinha de trabalhar? [Francisco Galamba:] – Oh, ia a caminho da ribeira com a minha mão para fazer-lhe um montado, ela tinha que ir a lavar, e eu ia porque eu tinha de ir à lenha e fazer lume. Naquele tempo não havia lixívia, não era tudo…, era com água quente… (…) tinha seis anos (…) …) chovia e muito frio (…), fui um dia aqui (…) à “Ferradura de Cima” de manhã, porque… e ao meio dia tive que me vir embora, era casado e ganhava seis escudos, seis estudos, tão longe, fui daqui, trabalhei até ao meio-dia, ao meio-dia acabámos por vir embora, desatou-me a chover, choveu um disparate. Tivemos de vir debaixo de água desde lá ate aqui, passar o buraco ali (…). Cheguei a casa, a água entrava-me aqui [pela cabeça] saia-me lá aos pés. Chegámos aqui já quase à noite (…) (…) Agora até peros, só se via um pêro quando havia feira, pela feira, mais nada. (…) «Uma flor que abriu em Maio Se bem abriu, bem fechou. Um amor que eu tanto amava Acabou-se, que ele me deixou. Acabou-se, que ele me deixou. Ai, abram-se as portas que eu saio Se bem abriu, bem fechou. Uma flor que abriu em Maio». Francisco Galamba, 84 anos, Ficalho (conc. Serpa), Fevereiro 2006. Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Serpa e de Beja. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas. Em 2010/2011 o Agrupamento de Escolas de Serpa como o projecto "Contos d'Aqui" entrevistou e levou à escola a Susete Vargas de Vale do Poço e a Francisca Calvilho de Vila Verde de Ficalho, mais duas contadoras de histórias do concelho de Serpa (ver o blog em "Documentação")
Inventário PCI
Transcrição
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Equipa
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