nome: |
Alfredo Rodrigues |
ano nascimento: |
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freguesia: | Verdoejo |
concelho: |
Valença |
distrito: |
Viana do Castelo |
data de recolha: | 2022 |
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Declamação de poema de autoria própria sobre a tristeza de passar a Páscoa na tropa longe da família Poesia de autor. - “E estão isto foi num Domingo de Páscoa e Segunda-feira de Páscoa. E nós, aqui a Páscoa é na segunda-feira. Eu estava na tropa em Lisboa e, pronto, naquele tempo não se vinha a casa como agora, todos os dias. Eu só vim uma vez. Em 22 meses vim aqui 12 dias, só. Porque o bilhete e tudo, era pago à nossa conta. E então depois lembrei-me de fazer isto. E então mete aqui o Telmo também, sabes? O Mário Salvador... Bem, eu vou ler isto depressa, que vocês... Às sete e meia da manhã Estava eu a descansar E nisto toca o clarim Para eu me levantar Toca então a pôr-me a pé Mas muito aborrecido Meu coração estava triste Pois tinha o dia no sentido - Que era o dia de Páscoa. Chegam-se as 8 horas, O clarim volta a tocar Pois o Alfredo já sabia Que o café era para tomar Chegam as 10 horas Toca a render a parada E então esta praça No serviço deu entrada Entrei em faxina, no Domingo de Páscoa, às 10 horas. Dei então entrada no serviço Mas com pouca satisfação Pois a pechincha não era tal Como a faxina o batalhão Faxina era (...) Ali o empregado que estava para tudo. «Olha, vai acolá. Vai ao fulano levar aquilo.»" - "Era o tarefeiro." - "Tinha de estar 24 horas de faxina. Chega-se ao meio-dia O clarim volta a formar Eu fui então escalado O vinho aos doentes levar Este vinho aos doentes é que tenho andado a pensar, que não me lembra lá no quartel haver enfermaria. Não me lembro, não tenho ideia nenhuma." - "Tinha que haver uma enfermaria." - "Mas tinha que haver. Lá davam um copito de vinho ou outro aos doentes, porque eu tenho aqui isto. Tinha que haver. Depois veio o comer O que foi vou contar Grão de bico com massa Uma pouca de carne a nadar Que era assim naquele tempo, não é Manuel? Bem, tu onde é que estiveste?" - "Mafra." Também nos deram sobremesa Dois copos de vinho tinto Deram-nos duas laranjas Amêndoas deram cinco. Porque era quando havia assim um dia de festa, de resto nada, não havia nada. Até às 3 horas descansei Mas nosso sargento chamou E então novamente A escravatura começou Porque às vezes havia aqueles [que diziam] «Opá, anda cá! É preciso fazer isto ou aquilo.» Depois às 6 horas O clarim torna a tocar E os faxinas ao batalhão Todos têm de formar Fui então escalado para levar o comer Aos que estavam de guarda Pois era serviço Que tinha que fazer A comida era levada numa padiola. Uma (...) atrás, as terrinas dentro e depois eles lá na casa da guarda é que lá se amanhavam, parece que tinham lá loiça e tal. Era aqueles que estão à porta de armas, (...) não podiam abandonar. Depois disto ter terminado Pedi licença para sair Então autorizaram-me Que à 1 hora tinha que vir Fui então dar um passeio Com pouca vontade de andar E quando era 1 hora Já me estava a deitar Chega a segunda-feira Dia para mim extremado E o Alfredo põe-se a pé Mas muito pouco animado Chegam-se as 8 horas Fui então escalado Para levar o café Também a um pobre soldado Nós em batalhão dos telegrafistas, formava-se ali o pessoal de transmissões no quartel. E depois esse pessoal era distribuído por certas entidades de Lisboa. Por exemplo, o Tribunal Militar de Santa Clara, no Ministério Do Exército. Era o nosso pessoal das transmissões que passava ali o tempo. Então nós tínhamos no Ministério Do Exército essa gente que estava lá. Veja lá o que era naquele tempo, ia-se de Sapadores, cá de cima, levar ou ao meio-dia ou à noite ou o café a esses soldados que estavam lá no Ministério Do Exército. E eram esses faxinas que tinham de fazer isso, a pé! Caminhei pelas ruas Em Lisboa em grande êxito Fui ao Terreiro do Paço Ao Ministério Do Exército. Chegam-se as 10 horas Tocou a render a parada Foi então que esta praça Livrou-se de tal trapalhada Meti depois dispensa Para faltar ao recolher E então o Alfredo A família foi ver Que era um familiar, uns parentes que eu tinha lá em Lisboa. Cheguei às 3 horas a casa Cumprimentei um a um E depois em seguida Fui a Metralhadoras 1. Foi quando fui ter com o Telmo. Quando lá cheguei Pedi à sentinela para entrar Pois que tinha ali dois amigos Que os desejava abraçar (...) Entrei então para dentro A casa da guarda fui parar E avistei em seguida o Telmo A dormir de papo para o ar Puxei-lhe por uma perna Quando ele ficou espantado E no período de momentos Ele não se deu por achado Ele não contava ali comigo, não é? Mas quando me conheceu Tratou logo de se levantar Com grande satisfação Ele me veio abraçar Começou então o pagode Para este dia não lembrar E em seguida fomos os dois O Mário Salvador procurar (...) Encontrámo-lo na caserna Ele estava a descansar Depois os três juntos Começamos a abraçar-nos Continuou então a conversa Na terra começámos a falar Dizendo uns para os outros Onde a cruz devia de andar (...) Aqui era à segunda-feira, a visita pascoal. E depois, com certeza, havia a hora que foi: «Que a cruz [deve estar] ali em tal lado!». A conversa foi esta. Mas parámos com a conversa Pois causava sentimento Começaram então outras Para passar este triste tempo Fui para casa de família Mas muito triste a pensar Que estava longe da família E quando a iria abraçar No fim disto tudo (Não sei quê) eu fui cear Em conjunto a família Só este tempo registar No fim então de comer Conversei então mais um bocado Quando era 1 hora Já estava deitado Aqui está um resumo Destes dias extremados E o que me passou a mim Passou também a outros soldados E depois tem aqui uma assistência, também, a um embarque. A um embarque assisti E fez-me comover o coração Em ver ir os meus colegas Para Goa, Dia e Damão O povo era imenso Uns curiosos, outros pais Vim bastante comovido De assistir a tantos ais Acenando com lenços Era o último adeus que lhes podiam dar Nessa hora tão suprema Antes de partirem para o mar Soou o último minuto Daqueles miúdos tão aflitos Assisti então com muito pesar A uma cena triste de gritos Eles lá vão, valentes soldados Lembrando-se das suas mães amadas Levando tão bem na memória O retrato das suas namoradas Assim partiram tristes Numa dor sem igual Mas cheios de vontade e brio Para defenderem Portugal E tenho dito!”
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