A produção de medronho e os seus derivados, como a aguardente de medronho, é uma prática enraizada em várias regiões de Portugal, particularmente no concelho da Sertã e áreas adjacentes. Apesar de ser uma cultura de nicho, o medronheiro (Arbutus unedo) tem ganho relevância nos últimos anos, não só pelas suas potencialidades económicas, mas também pela capacidade de regeneração ambiental em áreas afetadas por incêndios, como descreve o técnico agrícola João Gama. Neste contexto, surgem também novas utilizações do medronho (para além da tradicional aguardente) como o pão com medronho, cerveja artesanal e a kombucha, explorando a versatilidade deste fruto.
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A produção de medronho e os seus derivados, como a aguardente de medronho, é uma prática enraizada em várias regiões de Portugal, particularmente no concelho da Sertã e áreas adjacentes. Apesar de ser uma cultura de nicho, o medronheiro (Arbutus unedo) tem ganho relevância nos últimos anos, não só pelas suas potencialidades económicas, mas também pela capacidade de regeneração ambiental em áreas afetadas por incêndios, como descreve o técnico agrícola João Gama. Neste contexto, surgem também novas utilizações do medronho (para além da tradicional aguardente) como o pão com medronho, cerveja artesanal e a kombucha, explorando a versatilidade deste fruto. A aguardente é atualmente o produto derivado do medronho mais conhecido e valorizado. No concelho da Sertã, a produção desta bebida é uma tradição antiga. No passado, a produção de aguardente de medronho era uma atividade comunitária, onde várias famílias se juntavam para destilar grandes quantidades. A produção de aguardente de medronho, que envolve a colheita dos frutos maduros, a fermentação em barricas e a destilação em alambique, é uma prática que tem sido passada de geração em geração, mantendo viva a ligação das pessoas à terra e aos seus recursos naturais. A colheita do medronho O processo de produção começa com a colheita dos medronhos, que amadurecem ao longo de um ano. Segundo José Simões, o medronho deve ser apanhado quando está maduro, geralmente no outono, quando os frutos atingem a sua maturidade, apresentando uma cor vermelha intensa. Após a colheita, os frutos são colocados em barricas, onde se adiciona água. A quantidade de água depende das condições meteorológicas: se os frutos estiverem secos, é necessário adicionar mais, se estiverem húmidos, menos. A barrica é então fechada para que o medronho fermente naturalmente durante algumas semanas. Este processo é crucial, pois é ele que vai determinar a qualidade final da aguardente. Fermentação É no período de fermentação que o açúcar presente no fruto se transforma em álcool. Uma vez terminado este processo, o medronho fermentado é transferido para o alambique, o equipamento utilizado para a destilação. João Pires explica que antes de iniciar a destilação, o alambique é cuidadosamente lavado com água e sumo de limão, que ajuda a limpar o cobre e a garantir que o equipamento está em ótimas condições de higiene. Destilação O alambique, composto por uma panela de cobre, é então aquecido com lenha, preferencialmente de medronheiro ou torga, que queima lentamente e emite pouco fumo. O medronho fermentado é aquecido dentro do alambique até atingir uma temperatura quase de ebulição, mas sem ferver completamente. Durante o aquecimento, é necessário mexer a massa com uma colher de pau e uma raspadeira de cobre, para evitar que a mistura se agarre ao fundo. Quando a mistura atinge a temperatura adequada, o vapor alcoólico sobe pelo alambique, passando por uma serpentina de cobre imersa em água fria. Esta serpentina é constantemente refrescada com água corrente para garantir que o vapor se condensa em líquido. O resultado é a aguardente de medronho, que começa a sair pela bica do alambique. A "cabeça" da aguardente A primeira fração da aguardente, chamada "cabeça", contém metanol, uma substância tóxica que deve ser descartada. Esta parte do processo não era praticada antigamente, mas atualmente, com base em análises científicas, sabe-se que o metanol é prejudicial à saúde, pelo que é removido. Normalmente, José Simões retira cerca de meio litro desta aguardente inicial antes de começar a recolher a aguardente boa para consumo. Graduação alcoólica Após a separação da "cabeça", a aguardente continua a sair, e é monitorizada para controlar a sua graduação alcoólica. No início, a aguardente pode ter cerca de 67 graus de álcool, mas à medida que o processo avança, esta graduação vai baixando. A aguardente é considerada de boa qualidade quando atinge uma média de 46 a 48 graus de álcool e um sabor característico que reflete as notas frutadas do medronho. A produção de medronho e os seus derivados, como a aguardente de medronho, é uma prática enraizada em várias regiões de Portugal, particularmente no concelho da Sertã e áreas adjacentes. Apesar de ser uma cultura de nicho, o medronheiro (Arbutus unedo) tem ganho relevância nos últimos anos, não só pelas suas potencialidades económicas, mas também pela capacidade de regeneração ambiental em áreas afetadas por incêndios, como descreve o técnico agrícola João Gama. Neste contexto, surgem também novas utilizações do medronho (para além da tradicional aguardente) como o pão com medronho, cerveja artesanal e a kombucha, explorando a versatilidade deste fruto. O medronheiro é uma planta autóctone de Portugal, presente em várias regiões, especialmente nas áreas de floresta mediterrânica. O fruto do medronheiro, o medronho, é colhido tradicionalmente em áreas montanhosas e florestais, sendo uma prática antiga, mas que carecia de organização e modernização, como refere João Gama. No passado, a colheita de medronho era realizada de forma espontânea e esporádica, sem grande envolvimento técnico ou comercial, sendo vista como uma atividade suplementar. No entanto, a importância económica e ambiental do medronheiro tem sido destacada nos últimos anos, tendo este arbusto sido classificado pelo Ministério da Agricultura como uma atividade agrícola, permitindo o acesso a fundos comunitários e incentivos financeiros. As primeiras tentativas de organizar a produção de medronho no concelho da Sertã e em regiões adjacentes enfrentaram resistência. Segundo João Gama, em meados dos anos 2000, a ideia de plantar medronheiros foi inicialmente rejeitada pela população local, predominantemente envelhecida e acostumada à apanha silvestre. Muitos agricultores, já de idade avançada, resistiram à mudança, vendo o cultivo do medronheiro como uma atividade desnecessária face à apanha espontânea que realizavam nas serras. No entanto, com o apoio de programas de desenvolvimento rural e da investigação académica, o cenário começou a mudar. Um dos exemplos de sucesso é José Martins, agricultor da Pampilhosa da Serra, que após participar num congresso sobre medronho, decidiu investir em 7 hectares de plantação, transformando-se hoje num dos maiores produtores da região. Geracional, informal dentro das comunidades produtoras.
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