nome: |
Maria Amélia Guerra |
ano nascimento: |
1926 |
freguesia: | Mora |
concelho: |
Vimioso |
distrito: |
Bragança |
data de recolha: | Outubro 2010 |
Vimioso "O tio e a bruxa" - Um rapaz “descobre” uma bruxa e esta faz-lhe das suas até ser ameaçada. Maria Amélia, 1926. Vimioso Registo 2010. História de Bruxas O tio e a bruxa «Portanto, agora na sementeira(1), ainda não havia assim muito frio, fazia-se fogueira às portas e depois as pessoas iam a fiar e sentavam-se ali, à roda da fogueira, a fiar. E também lá estavam a falar nas bruxas (como agora aqui). E diz assim o meu tio: - Tanto me dá que faleis, como não faleis – bruxas não hai(2)! E uma saltou-se a rir: - Ah, António sempre dizes que não há bruxas! - Ia el[e] trazendo-a por bruxa. - Ah, António sempre dizes que não há bruxas! António - Não! E se hai aí alguma, que se vá deitar hoje comigo! E, dali a catchico(3), consoante sai a aldeia toda, dali a um catchico, que ele vem dizer- -lhe a ela - lá estava ela! António - Na’ me digas que vens agora pra mim a esta hora?! Mas nada de falar! Não lhe falou, nem nada. Só entrou… Disse um palavrão pra ela: que a agarrava, que a (…), não sei quê… Achou-a diferente. Ele! Achou-a diferente, tão diferente que ninguém a julgava na vida. E a’pois(4) um dia que ia passando ela ao pé dele, mas disse que já não passava aquase(5) nunca ao pé dele, e aquele dia disse que passou: Bruxa - Ah, António, então já estás muito doente? António - Olha, mas eu queria-te dizer uma coisa. Bruxa - Olha, então, diz-ma. Então diz-ma. Diz: - Ó sua puta, tu é que me trazes isto! Ou me curas ou quando nos teus dias vão ser (…). Bruxa - António, não me maltrates! E não no digas! Que se eu desejo as minhas colegas afogam-te! Então não no digas. E amanhã curas-te. E já criava bichos… A minha avó, a mãe dele, diz-se que era muito limpa, muito, muito asseada e que se lhe havia de amanhar(6) hoje a cama, ao outro dia, a amanhar, disse que já estava cheia de bichos! Não eram piolhos! Disse que eram bichos, cocos(7) mesmo. E disse que quando meteu esse cagaço(8) à tal, não tornou a ver nem bichos, nem doença, nem coisa nenhuma! Logo curou tudo. Essa contava-me, às vezes, a minha mãe, Deus me perdoe!» Maria Amélia Guerra, Mora, Vimioso, Outubro de 2010 Glossário: (1) Sementeira – tempo, época, em que se lançam as sementes à terra. (2) Hai – existem. (3) Catchico – “cachico” em Mirandês (2ª. língua oficial de Portugal); “bocadinho” em português. (4) A’pois – “a seguir”,“depois” (uso popular e coloquial). (5) Aquase – “quase” (uso popular e coloquial). (6) Amanhar – arranjar, no caso, a cama. (7) Cocos - bactérias arredondadas, esféricas. (8) Cagaço – susto, medo. Neste glossário consultaram-se: http://aulete.uol.com.br; http://www.mirandadodouro.com/dicionario/traducao-portugues-mirandes/bocadinho/; http://www.mirandadodouro.com/dicionario/traducao-portugues-mirandes/bocadinho/; http://www.infopedia.pt;http://jardimdeurtigas.blogspot.com/2009/03/dicionario-alentejano-portugues-b.html Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer. Residentes do concelho de Vimioso que são convidados para iniciativas do Município e Biblioteca de Vimioso. Principais actividades desenvolvidas que estas manifestações culturais: Sons e Ruralidades em Vimioso ANAMNESIS - Encontro de Cinema, som e tradição oral. Feira de artes, ofício e sabores (ver links em documentação)
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