nome: |
Olivia Brissos |
ano nascimento: |
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freguesia: | Beringel |
concelho: |
Beja |
distrito: |
Beja |
data de recolha: | 2006 |
- A carta da algarvia
- As mulheres do carocinho
- As perdizes
- Corre corre cabacinha
- O genro bêbado
- Olívia Brissos - Entrevista
Beja “A carta da algarvia”- No tempo das migrações sazonais, por conta dos trabalhados agrícolas, uma algarvia analfabeta pede ao filho do seu patrão, no Alentejo, que lhe escreva uma carta peculiar para ela enviar ao seu namorado. Olívia Brissos; Beringel; Concelho de Beja. Registo 2006. Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Junho de 2007. E a minha mãe até dava pra contar assim, às vezes, qualquer coisa que se passava aqui em Beringel. Às vezes contando sobre quando ela era nova e as algarvias(1) vinham pra cá mondar(2). E atão ia um carro para as trazer. Quando abalavam, eram as famílias a despedirem-se delas: – “Façam boa viagem! Tenham por lá festas alegres! Já lá chegando, escrevam. Mandem o retrato”! – Por jeitos aquilo era a mesma coisa, escrevam ou mandem o retrato! Bom, chegavam cá, não sabiam ler, começavam elas a dizer ao rapaz que andava na monda (que era o filho do patrão, que era só quem sabia ler era essa gente): – Tenho que escrever uma carta ao meu namorado! E você… Filho do patrão – Atão, aí amanhã, traga a carta. Eu, aí à hora do meio-dia – quando acabavam de almoçar(3) –, atão escrevia a carta. –E jantar(3), que nesse tempo era jantar e, à noite, era cear(3). Ia para escrever a carta: – Bom, atão vá! – A mesa posta… Olhou a uma coisinha para pôr ali uma tábua, para escrever. – Atão vá. Diga lá o que é que quer mandar ao seu namorado. Algarvia: – Bom, então escreva lá: “ Cá te escrevo, lá m’a leias. Se m’ amas, manda-me dizer. E se não m’ amas, manda-me dizer também. E se m’ mas à vida(4), traz-me um lenço. E as minhas papo contigo, só à vista terem fim. Dá saudades à Maria Fantocha e à Mariana Carcorcheira” Foram as que ficaram lá, que não vieram à monda. Era a carta dela. Olívia Brissos, Beringel (conc. Beja), Fevereiro de 2006. Glossário: (1) Algarvia: pessoa natural do Algarve, região do Sul de Portugal (abaixo do Alentejo). (2) Mondar: Arrancar das ervas nocivas na seara. (3) Almoçar, jantar e cear: antigamente quem trabalhava no campo tinha normalmente como principais refeições do dia: a) o chamado “mata-bicho” tomado entre as 6 e as 7 da manhã; b) o almoço entre as 8 horas e as 10 horas; c) o jantar: tomado normalmente pelas 12 horas; d) poderia haver a merenda por volta das 16 horas; e, por último, e) a ceia: tomada entre as 19 horas e as 20 horas. (4) M’mas à vida: trocadilho de palavras que pode referir-se a “se me amas” e, em simultâneo, a “mamas à vida”, similar a “estar montado na vida”, ou seja, se a vida corre bem financeiramente. Para execução deste glossário consultou-se o website http://www.priberam.pt e as obras: a) SOUSA, Acácio de; SOUSA, Gentil Ferreira, CARDOSO, Orlando. (1990). Leiria – O Fascínio da Cidade. s.editor, s.ed. Leiria; b) SOUSA, José Ribeiro de. (2003/2004). Cancioneiro De Entre Mar e Serra da Alta Estremadura. 1ª. Edição. Leiria: Câmara Municipal de Leiria; c) Simões, Guilherme Augusto. (2000)., Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. 2ª. edição. Dicionários D. Quixote; 34. Lisboa: Publicações D. Quixote. Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.
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