nome: |
Mariana dos Santos Pacheco (Mariana Bicho) |
ano nascimento: |
1938 |
freguesia: | Salvada |
concelho: |
Beja |
distrito: |
Beja |
data de recolha: | Outubro 2010 |
- 5ª feira das endoenças
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Beja “Aprender a contar”- A informante não frequentou a escola por viver longe da mesma, mas conseguiu sozinha aprender os números e a fazer contas sem qualquer ensinamento. Mariana Bicho; Salvada; Ano de nascimento: 1938; Concelho de Beja. Registo 2010. História de vida (caso) Aprender a contar Nesse tempo. Nesse tempo aprendia-se a fazer tudo. Eu na’(1) sei fazer o me’(2) nome! Mas vou-lhe contar aqui uma história. Aprendi a fazer toda a roupa da minha família, da minha casa: eu fazia. E o me’ pai queria as bainhas daqui das calças, esta largura, vinte centímetros. E eu tinha uma fita, ‘tá(3) a ouvindo? [Risos]. Tinha uma fita, custou-me vinte e cinco tostões(4). Vinte e cinco tostões! Uma fita métrica com, pronto, metro e meio. E eu sei ler os números em todo o lado, que as pessoas admiram-me: “mas como é que ela na’ sabe ler e sabe ler que as coisas custam?!” Eu sei ler os números, sei tudo: sei balanças, sei tudo. Aprendi os números por a fita métrica! As pessoas: ? “mas como é que ela aprendeu? ? Se eu não nunca ia à escola – “como é que ela aprendeu os números?” ? Ah! E contar? Pode haver quem me ganhe, mas em contar eu fazia a conta da regra de três (…) que três dá certo, nove dá certo, quinze dá certo, vinte e tal dá certo. Ah! Sempre resto zero! [Risos]. Esta conta sem ninguém me ensinar. Ninguém me ensinou! Mas eu fazia assim. O meu irmão fazia os proble[mas] (…) da escola! Os ditados! – “Mariana, escuta lá… – Atão? – Tantas laranjas a dividir por tanta… – Olha, dá tantas a cada uma!” [Risos]. Diga lá, isto nasce com a gente. Ê’(5) sou assim. E tinha um irmão, já há vinte e dois anos que morreu, que dizia assim: “? Aquela minha irmã Mariana, na’ há palavras! Se ela tivesse ido à escola, ela tinha uma cabeça, dava uma professora de Matemática, que na’ havia palavras!” – Atão, mas nunca fui à escola! Porquê? Tinha um porquê. Tudo tem um porquê na nossa vida. O me’ pai era moleiro, eu fui criada no rio Guadiana, ora, uma moça sozinha na’ podia vir à escola. Do rio Guadiana. Ficávamos muito longe das povoações e eu na’ podia vir à escola. Nunca aprendi a ler. Mariana Bicho, Beja, Outubro de 2010 Glossário: (1) Na' ? não (houve supressão da acentuação e do o para reproduzir a pronúncia). (2) Me’ – meu (houve supressão do u para reprodução de pronúncia, uso coloquial). (3) 'Tá ? está (pronúncia popular do verbo “estar”, uso informal). (4) Tostões ? plural de tostão – antiga moeda portuguesa (equivalente a 100 réis ou de 10 centavos). (5) Ê' – eu (houve acentuação do e e supressão do u para manter a pronúncia) Referências bibliográficas e recursos online utilizados no glossário: http://aulete.uol.com.br; http://www.ciberduvidas.com; http://www.infopedia.pt; http://www.priberam.pt Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.
Inventário PCI
Transcrição
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Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
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