nome: |
Mariana dos Santos Pacheco (Mariana Bicho) |
ano nascimento: |
1938 |
freguesia: | Salvada |
concelho: |
Beja |
distrito: |
Beja |
data de recolha: | Outubro 2010 |
- 5ª feira das endoenças
- A bela Infanta
- A filha varão
- A mulher do maioral
- A Rosinha costureira
- Aprender a contar
- As 3 filhas
- Deolinda e o patrão
- Hortense e o rapaz
- Juz juiz divinal
- Mulher sempre deitada
- O pranto da virgem
- O rapaz da bicicleta
- O rico e o pobre
- Oração de S.Gens
- Oração do início do dia
- Passeando D.Maria
- São gritos ao Calvário
- Senhora do Carmo
Beja “A Rosinha costureira”-Uma história dramática de amor entre uma costureira e um serralheiro. Um casamento combinado afastou ambos e conduziu-os à morte. Mariana Bicho; Salvada; Ano de nascimento: 1938; Concelho de Beja. Registo 2010. Fado. Classificação: Isabel Cardigos (CEAO/Universidade do Algarve) em Setembro de 2011 Observação1: Para mais, ver António Sardinha, História do Fado, CD 04. (observação de Isabel Cardigos) Observação2: Classificado como Romance narrativo em Giacometti, Michel, Romanceiro da Tradição Oral , Vol. 1, Lisboa, 2009, CM Cascais/IELT/ Edições Colibri, pp. 64-65. (observação de Memóriamedia) A Rosinha costureira alegre trabalhadeira dum bondoso coração. Um dia se namorou do rapaz que ela gostou, dum serralheiro(1) João. Am’os(2) se davam tão bem pareciam irmãos, porém eram simples namorados. Jurando até por morte ó(3) destino, que é bem forte, dum dia serem casados. Lá chegou a ocasião do serralheiro João ser soldado, *foi às sortes*(4). Da Rosa se despediu, deu-lhe um beijo, lá partiu. Diz ela: - Vai, na’(5) te importes. Sempre t’ hei-de de respeitar. Podes, João, abalar. Na’ te esqueças de escrever! Juro-te aqui, mesmo agora, por a Virgem Nossa Senhora, serei tua até morrer. Iam-se os meses passando, ela e ele esperando por estas datas tão fartas, quando um ao outro se escreviam. Mas quando as respostas liam até be’javam(6) as cartas. Até que um belo dia, apareceu na freguesia um primo da linda Rosinha que do Brasil veio rico. Que’ le(7), um grande malfarrico(8), pediu-le(9) a sua mãozinha. Com o tio foi falar dizendo-lhe: - quero casar com a minha prima Rosa. Se entender, contento fico, como vê sou muito rico, quero-a para minha esposa. Logo o pai chama a Rosinha diz-lhe: - querida filhinha chegou agora a ocasião. Brevemente vais casar co t’ primo. Lindo par! Deixa o pobrito João. Logo a Rosinha a tremer diz: - meu pai, não pode ser! Por ser rico, na’ me importa. Gosto mais do meu João, é dele o meu coração, nem qu’ eu saia daqui morta! O pai deu-le uma bofetada, pô-la num quarto fechada, foi falar com a mulher. - E nem mesmo que se troça [torça], casamo-la me’mo(10) à força, que’la ainda na’ tem q’rer(11). - Tenho dinheiro que se veja e até vais meter inveja. Olha as notas (…)… E à força a casaram com o primo; Revessaram(?) residência no Brasil. Agora penava Antão(12) o soldado bom João ensioso(13) por saber porque é que a sua Rosa, a sua futura esposa, lhe deixara de escrever. Quando à sua casa chegou a mãe assim lhe falou: - ouve lá, ó me’(14) João, filho do meu coração, andaste sempre enganado! - Minha mãe, já me avisou alguém foi casamento forçado. Para o quartel voltou, admirado ficou o pobre João soldado. Foi grande o contentamento que teve naquele momento que era recenseado. Prà(15) sua casa voltou, com a mãe dele falou: - Vendemos nossa casinha. Quero ir para o Brasil. Quero saber deste ardil(16). Que’(17) procurar a Rosinha! Quando ó Brasil chegou ele logo precurou(18) por a Rosinha portuguesa. Com uma certa direcção foi bater na campainha. Logo atendeu um criado, de luto e bem cargado(19), era o fial(?) da Rosinha. - Porquê? Perguntei. Escusado mais no mundo procurar. - Juro-lhe aqui, senhor João, que a Rosinha morreu ontem com o seu retrato na mão. Pálido, João sem cor, diz-lhe: - querido amor, aqui tens o teu João! Dá na cabeça um tiro, deu o último suspiro agarrado ò ca’xão(20). Mariana Bicho, Beja, Outubro de 2010 Glossário: (1) Serralheiro – artificie que fabrica ou repara artigos em ferro (fechaduras, grades, caixilhos, etc.). (2) Am’os – ambos (houve supressão do b para manter a pronúncia). (3) Ó – ao, no caso. (4) Sortes (ir às) – Quando o serviço militar era obrigatório, por volta dos dezoito anos, os rapazes eram chamados para uma inspecção médica militar obrigatória, onde era avaliada a sua robustez e determinada a sua condição de apto, livre ou adiado de integrar a vida militar, de ir à tropa. Caso houvesse um maior número de aptos do que as vagas a preencher, podiam ser sorteados, entre estes, os que teriam que cumprir obrigatoriamente o serviço militar ou os que ficavam livres de o fazer - daí a associação a “sortes”. Em tempos de guerra o comum era ficarem todos aptos. (5) Na’ – não (houve supressão da acentuação e do o para reproduzir pronúncia popular, uso coloquial). (6) Be’javam – beijavam (houve supressão do i para reproduzir a pronúncia). (7) Qu’ele – que ele. (8) Malfarrico – mafarrico (hipótese), no sentido figurado de uma pessoa que perturba, que pode ser um malandro ou um patife. (9) -Le – lhe (pronome, registo popular e modo informal). (10) Me’mo – mesmo (houve supressão do s para manter a pronúncia, uso coloquial). (11) Q’rer – querer (houve supressão de ue para manter a pronúncia). (12) Antão – então (em tal caso). (13) Ensioso – ansioso. (14) Me’ – meu (houve supressão da vogal u para reprodução da pronúncia, uso coloquial). (15) Prà – para a (contração da preposição pra com o artigo ou pronome a; uso popular e coloquial). (16) Ardil – estratagema, esquema para enganar alguém. (17) Que’ – quero (houve supressão de ro para manter a pronúncia). (18) Precurou – procurou (à semelhança de «porcorar, procurar, prèscurar e prècurar: procurar» Pires, A. Tomás. (1907).Vocabulário alentejano. Revista Lusitana, Volume X, Lisboa: Imprensa Nacional, p.100. (19) Cargado – carregado (à semelhança de «Ramos molhados: carros cargados (carregados, cheios).» Lopes, Miranda (1933). Da minha terra — Subsídio para a Etnografia de Trás-os-Montes. Revista Lusitana, Volume XXXI, Lisboa: Livraria Clássica Editora, p.161. (20) Ca’xão – caixão (houve supressão do i para manter a pronúncia). Referências bibliográficas e recursos online utilizados no glossário: Barros, Vítor Fernandes, (2006). Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro. Lisboa: Edição Âncora Editora e Edições Colibri, p.39. Barros, Vítor Fernandes, (2010). Dicionário de Falares das Beiras. 1ª. Edição. Lisboa: Âncora Editora e Edições Colibri, p.243. Nunes, José Joaquim.(1902).Dialectos algarvios. Revista Lusitana, Volume VII, Lisboa: Antiga Casa Bertrand, p.252. Vasconcelos, J. Leite de. (1890-1892). Dialectos trasmontanos. Revista Lusitana, Volume II, Livraria Portuense. p.115. http://aulete.uol.com.br;http://carifas.blogs.sapo.pt/4207.html;http://michaelis.uol.com.br; http://opombalinho.blogspot.com/2007/02/ir-s-sortes.html; http://sopasdepedra.blogspot.com/2010/12/ida-as-sortes.html; http://vilanovense.com/livro-militar.html; http://www.ciberduvidas.com; http://www.infopedia.pt; http://www.jose-lucio.com/INR/Fazer/Fazer005.htm;http://www.priberam.pt Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.
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