nome: |
Tia Desterra |
ano nascimento: |
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freguesia: | Póvoa de Varzim |
concelho: |
Póvoa de Varzim |
distrito: |
Porto |
data de recolha: | 2007 |
- A abantesma e a mulher
- A abantesma e o homem
- A bruxa às canichas
- A bruxa e o peixe
- A esposa bruxa
- A tia ressuscitada
- Alma penada na igreja
- Ceia de Natal
- Diabo preso
- Latinórios
- O bezerro maldito
- O diabo e o Adolfo
- O diabo na igreja
- O diabo no muro da igreja
- O espírito mau no morro
- O fim das bruxas
- O peixe grande
- O voo do namorado
Póvoa de Varzim "A abantesma e a mulher" - Relato de encontro de uma mulher com uma abantesma (fantasma). Ti Desterra, Póvoa de Varzim, Registo 2007 A abantesma [1] e a mulher […] contava-se que aparecia nas casas, que aparecia isto, que aparecia aquilo… Contava-se muitas histórias. Nós morávamos numa ilha… Hoje já não existe esta ilha, ali à beira do Quintes, na Patrão Sérgio. Ali era uma ilha como eu contei: era um coiso de casas… E ali, havia… Contava-se umas histórias, não é? Contava-se muitas histórias naqueles quintais. Que aparecia isto, que aparecia aquilo… Como contei: que à noite já ninguém ia ao quintal. Os quintais eram todos cheios. Faça de conta que era doze caseiros com doze quintais, que eram separados por carreiros. O senhor sabia que esta horta e esta que era sua, aquela sabia que aquela e aquela horta que era dela, o senhor sabia que aqui é que era para botar a secar a roupa, aqui era a cora do seu, para você botar a roupa a corar (antigamente era tudo corado, não é?)… E contava-se muitas histórias nessa ilha. Histórias… Assim, ela contava que aparecia uma abantesma – como já contei, que era como fosse um padre, vestido de padre, com botõezinhos (eles ao menos sabiam tudo, que havia pessoas muito curiosas e havia homens que não tinham medo, que defuntavam e que não tinham medo!) E então que vinha da parte da última casa. Porque isto era assim: eram aqui na rua do Patrão Sérgio, do mesmo senhorio, tinha duas, quatro, seis casas, está a ver? Isto depois fazia assim e ia para dentro da ilha e tinha aqui doze casas. Os quintais daqui vinham até aqui e os quintais daqui iam para ali. Mas era tudo os mesmos quintais. Desta parte das ruas, das casas que vinham da rua, havia um poço; e das casas de cima, havia outro poço no meio dos quintais. Ninguém morreu afogado, que aquilo era tudo só… andava tudo ao Deus-dará. E como ia dizer então: aquela mulher, um dia, prontos, veio trabalhar – que ela andava na aldeia, vinha vender peixe por essas aldeias fora. Ela veio de noite e precisou de ir ao quintal. E foi ao quintal. Naquele tempo não havia casas de banho dentro de casa, como o senhor sabe – e, se não sabe, fica a saber, não é? Se não sabe… E a mulher olhou, viu aquela abantesma. Diz ela: - Aquela abantesma… E eu, que já tinha para aí os meus sete anos… Ela chamava-se Cecília. Mas nós não sabíamos chamar Cecília e chamávamos Cezila. - Tia Cezila… E como era a abantesma? Ela, a mulherzinha, explicava: - Ai… Era muito alto… Quanto mais olhávamos para ela, mais ela crescia!... E vinha vindo, vinha vindo, vinha vindo devagarinho até chegar à nossa beira. Mas eu, assim que vi, eu queria correr! O vento era tanto, que não me deixava correr, mas eu – toca a correr para dentro de casa! Fiquei à porta e ainda estive a espreitar pelo ferrolho. A chave era daquelas chaves muito grandes. Pelo ferrolho… Mas eu tinha medo e então vim para dentro. Acendi o candeeiro, dei registo ao candeeiro… -que ela já tinha candeeiro. Eu ainda me lembro de muitas casas ter graxa assim numa concha grande e com coisa de roupa a fazer aqueles pavios. Ainda me lembro disso… [1] Fantasma, espectro. Actividades promovidas pelo Município da Póvoa de Varzim, Biblioteca Municipal e Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim. Comunidade piscatória da Póvoa de Varzim
Inventário PCI
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