nome:
Deolinda Gonçalves e Irene Gonçalves
ano nascimento:
 
freguesia: Castro Laboreiro
concelho:
Melgaço                             
distrito:
Viana do Castelo
data de recolha: 2022
 
 
 

Inventário PCI

Lobisomens e lobos

Relato sobre avistamentos de lobos em Castro Laboreiro.

História de vida. Casos reais de práticas predatórias de lobos em contexto pastoril.

Transcrição

- "O meu avô ficou viúvo muito novo e o meu avô emigrou para França, mas esteve lá muito pouquinho tempo. (...) Vivia com as filhas, tinha duas filhas: a minha mãe e a minha madrinha. Depois a minha madrinha emigrou para o Canadá e ficou a viver sempre connosco.

Eu era novinha, tinha 8 anos, quando o meu avô ficou a viver definitivamente com a minha mãe. (...) E nós íamos com ele guardar as vacas. Íamos com ele porque já era velho e nós é que íamos para guardar. Então contava essas histórias.

Ora, ele contava que uma vez era uma senhora. (...) E ela conhece o caminho, vocês não conhecem, mas nós chamamos-lhe o Couto Longo. Então íamos lá para o monte, lá para longe, com o rebanho da rês. Então aquela senhora - foi ela e uma menina, porque ia sempre uma senhora de idade e os mais pequeninos, porque a pessoa de idade tomava conta dos pequeninos e ao mesmo tempo os pequenos ajudavam a guardar o rebanho. Então diz que vinham já de muito longe e que viam sempre aquele lobo atrás deles. Chegado um momento a senhora conheceu-o. E havia assim no caminho como uma lapinha. Então a senhora trazia um feixinho de urzeiras, para acender a lareira, o lume, e quando chegou ali disse-lhe à menina:

«- Olha, vai na frente que eu vou ficar aqui um bocadinho.»

Então a senhora ficou para trás, para que o lobisomem não apanhasse a pequenina. Então ficou e ela pousou o feixe de lenha. Ele veio e transformou-se, como vinha mau, porque queria... e matou ali a senhora.

Antigamente havia muitos lobos. E então os lobos, como eram muito arrepiantes, a gente tinha muito medo. Todo o mundo dizia que quando via um lobo que lhe estremecia o corpo todo, que ficava todo arrepiado, que só o olhar dele era muito penetrante. E a verdade é que eu vi duas vezes ou três o lobo e é uma coisa que mesmo que não esteja perto, parece que o corpo fica todo arrepiado, sem a gente mesmo se dar conta. E talvez por isso."

- "Não havia caça nos montes como há agora, nem nada disso. Eles atacavam. E às vezes pegavam as pessoas, segundo ouvi, que [a mim] nunca me aconteceu, eu nunca o vi. Se calhar a dona do carneiro, o lobo tinha-o agarrado e ela foi tirá-lo e cada um puxava para o seu lado. Agora, aquilo devia arrepiar um pouco, não é?"

- "Uma vez que estávamos no monte. Nós tínhamos pouquinhas ovelhas, só três ou quatro com as vacas, tínhamos vacas. Mas a minha tia tinha um rebanho de ovelhas. E andávamos no monte, eu com as vacas dos meus pais e as minhas tias, havia duas minhas tias. (...) Uma tinha vacas e outra tinha um rebanho de ovelhas muito boas. E estávamos lá sentadas, cada uma [no seu lado]. As vacas, umas iam para ali, outras para ali. E quando tal vimos, havia uma cordinha, e vimos vir o lobo a correr, a correr e botou-lhe a boca ao carneiro. E nós tínhamos cães naquela altura, todos de Castro Laboreiro, começaram a berrar e a gente a fazer barulho com os paus a bater e os cães a ladrar e conseguimos. Ele ia assim lá para cima, por uma ladeira acima. E conseguimos. E depois curávamos as ovelhas, se não estivessem muito mordidas conseguiam curá-las. E esse tirámos-lho. Mas vi-o passar e é verdade que é arrepiante. Eu acho que estes que há agora, mesmo que a gente os veja, não fazem tanto medo quanto antigamente. Mas antigamente eles eram... às vezes viam-se três, começavam a uivar longe. A gente sentia-os, era muito arrepiante.

Uma dada altura, diziam que não havia e deitaram lobos mansos. Acho que a pelagem, mesmo ela, não é bem a mesma de que havia antigamente. Antigamente, (...) a gente diz que o cão daqui de Castro que é arraçado com o lobo. Eu não sou especialista nisso, mas os lobos que eu vi, é verdade que a pelagem (...) é muito parecida com os cães de cá. Mas a estrutura óssea e isso não tem nada a ver, o focinho é muito mais aguçado. (...) Os lobos que que já vi agora são tipo huskys, mais claros, diferentes dos que a gente via antigamente. Antigamente era quase como um burro. A gente às vezes via-os, eram enormes. Eram mesmo lobos muito grande, muito grandes. Eu vi, acho, que em toda a minha infância e adolescência, acho que eu vi três vezes. Três vezes ou quatro e eram enormes, aquilo metia, como dizem aqui no Norte, respeito. A gente quando os via, acho que muita gente dizia que ficava sem fala. [A mim] nunca me aconteceu, mas acredito que sim, porque eram enormes, mesmo muito muito grandes."

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Irene Gonçalves, Deolinda Gonçalves

Contexto de produção

Contexto territorial

Castro Laboreiro
Castro Laboreiro
Melgaço
Viana do castelo

Contexto temporal

2022

Património associado

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão
Idioma

Equipa

Transcrição
Laura del Rio, Paulo Correia
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Filomena Sousa, José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL